Secretaria Municipal de Educação

05/05/2016 - Educação
Grávida, adolescente não deixa de estudar na EJA e sonha com um futuro ao lado da filha
J. A, aos 16 anos, vive num abrigo na região de Florianópolis e dá lição de superação

foto/divulgação: Petra Mafalda

Aos 16 anos, Jaíne está grávida de 9 meses de uma menina. Mhaitê será seu nome.

Acolhida pelo abrigo municipal para meninas de Florianópolis, uma jovem, vinda de São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, guarda dentro de si uma emocionante história de vida, que hoje, é compartilhada com todos nós.

A passos curtos e cuidadosos, J. A. S, atravessou as portas brancas da moradia. O corpo, agora moldado pela gravidez, ainda reflete os traços de uma adolescente de 16 anos.

 

A barriga abriga Mhaitê, que pode chegar ao mundo a qualquer instante. A gestação já completou seu nono mês. “Os médicos preveem que até o dia 26 de maio ela já esteja por aqui”, comenta J., em meio há sorrisos.

 

O enxoval da pequena está completo. Com ajuda dos profissionais do abrigo, a jovem mãe está com tudo pronto. No quarto, o capricho e a dedicação são notáveis. As roupinhas já estão lavadas e passadas. Ao lado da cama, o berço está adornado com bichinhos de pelúcia que colorem o ambiente.

 

A roupinha para a saída da maternidade também já foi escolhida. Em um tom de vermelho vibrante, Mhaitê dará seu primeiro alô ao mundo fora da maternidade.

 

Sobre o parto, as expectativas são muitas. Mas o medo é o principal obstáculo. “Provavelmente será parto normal, minha preferência é que seja no Hospital Universitário de Florianópolis. Só estou com receio que doa muito. Todo mundo diz que dói bastante. A ansiedade é grande”, diz com um jeito meigo de menina.

 

 

Não pretendo parar de estudar. Sonho com um futuro pra mim e para a Mhaitê”

 

Na Escola Básica Municipal Almirante Carvalhal, em Coqueiros, J. encontrou uma segunda família. No local, ela participa da EJA, Educação de Jovens e Adultos, da Secretaria Municipal de Educação. As aulas acontecem no período noturno. De segunda a sexta-feira, das 19h às 22h.

A modalidade da educação básica, EJA, é destinada para todos que desejam se alfabetizar, ou concluir o ensino fundamental. A idade mínima para participar é de 15 anos, sem limite máximo para a matrícula.

 

Os interessados podem entrar nas turmas de primeiro segmento, equivalente aos anos iniciais-1º ao 5º ano; ou no segundo segmento, equivalente aos anos finais- 6º ao 9º ano.

 

A adolescente foi a primeira aluna vinda de um abrigo, segundo a coordenadora do núcleo continental, Ana Paula Silva e Costa. Depois de alguns meses, mais quatro jovens que vivem com J. também passaram a frequentar as aulas na unidade, já que na EJA a entrada de novos estudantes pode ser realizada em qualquer época do ano.

 

“Nos primeiros dias a J. estava mais distante. Ficava em silêncio. Aos poucos, foi conversando mais. Ela mantém um ótimo relacionamento com todos os colegas”, comenta Ana.

 

“Me divirto navegando na rede”

 

A futura mamãe adora as aulas na sala informatizada. Fazer pesquisas sobre diversos temas é o seu passatempo preferido.

 

“Gosto de navegar pelos sites. Sou muito curiosa, quando discutimos algum assunto novo nas aulas corro logo pra saber mais a respeito”, afirma J.

 

Quando Mhaitê nascer, a jovem deseja continuar os estudos. No momento, ela está cursando o segundo segmento, o que equivale aos anos finais do ensino fundamental. J. pretende terminar esta formação ainda este ano.

 

A EJA dará todo o suporte necessário. Segundo Ana, a adolescente possui o direito de levar a filha para as aulas. A instituição também está pensando em criar um espaço mais aconchegante na biblioteca da unidade para que a jovem possa ficar com a Mhaitê.

 

Conforme Ana, “J. é uma menina independente. É muito autônoma quando deseja fazer as coisas. Pela força de vontade dela é notável que terá a vida que deseja ao lado da filha”.

 

Ana e mais quatro professoras levaram um kit maternidade que arrecadaram com a ajuda de outros profissionais da instituição, amigos e familiares. Foram entregues artigos de higiene, roupão, pijama e pantufas.Tudo para que a jovem mamãe tenha um estadia confortável na maternidade.

A Secretaria Municipal de Educação oferece a EJA em diversas localidades do município, tanto na Ilha como no continente. Quem quiser participar desta modalidade de educação é só procurar uma escola ligada à Prefeitura de Florianópolis para obter detalhes. Para realização de matrículas, basta levar um comprovante de endereço e documento de identidade.

 

 

Amizade, família, lar

 

Quando chegou ao abrigo, no final do ano passado, J. foi acolhida por toda a equipe e se afeiçoou ao grupo. Tanto que para padrinhos da filha Mhaitê, ela escolheu o supervisor do abrigo, Edelvan Jesus da Conceição e a assistente social, Simone Martins.

 

“Ele é como um pai para todos nós. Apoia, aconselha. A Simone também, uma grande amiga. Quero que minha filha esteja ao lado dessas pessoas especiais”, diz J.

O lar que acolheu J., também é casa para mais 15 adolescentes, com idades entre 7 e 17 anos. No local, as jovens tem o suporte de assistentes sociais e psicólogos. Além disso, possuem um educador social, profissional responsável por acompanhar as jovens no dia-a-dia e por promover atividades lúdicas de interação entre as crianças e adolescentes.

 

A psicóloga Juliana de Borba foi também uma das pessoas que recepcionaram J. no abrigo. E assim como os demais profissionais, está muito animada para a chegada da Mhaitê. “Nós estamos aqui para ajudar. Queremos sempre o melhor para todas as meninas, para que elas construam suas vidas com dignidade”, complementa.

 

“A gente não pode é deixar a esperança morrer”

 

J. chegou a Florianópolis no dia 23 de abril de 2014. Nesses 12 meses, muitas coisas aconteceram que transformaram a sua vida. Passou pelo bairro Rio Vermelho, Norte da Ilha, e Morro do Horácio, localizado na região central. Fez amizade, conheceu lugares, se apaixonou pelo mar. No entanto, não tem nenhum familiar no estado, todos ficaram em Minas Gerais. Por estar sozinha, residindo apenas na casa de amigos, ela decidiu tomar uma atitude.

 

A reviravolta em sua vida ocorreu quando teve a iniciativa de procurar o Conselho Tutelar. Eles foram o órgão responsável que a direcionou ao abrigo. “Quis mudar de vida. Descobrir a gravidez só concretizou essa decisão. Quero sonhar e tornar realidade meus maiores desejos ao lado da Mhaitê”.

 

“Não deixem a esperança morrer”

 

Para o futuro, além de terminar os estudos, J. quer se profissionalizar como cabeleireira. Desde criança, sempre gostou de arrumar o cabelo das outras pessoas. Hoje, as brincadeiras da infância inspiram a vontade da adolescente.

 

“Todo mundo aqui do abrigo está me ajudando a procurar o curso. Não achamos nada gratuito e os particulares são caros. Mas, isso não vai me impedir de continuar tentando”, afirma.

 

Decidida a terminar os estudos, trabalhar e cuidar da filha, J. transmite uma mensagem para todas adolescentes que possam estar enfrentando pelas mesmas dificuldades que ela enfrentou: “Procurem ajuda. Ninguém precisa passar por isso sozinha. Não deixem a esperança morrer”.


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