Secretaria Municipal de Educação

01/06/2020 - Educação
Professora da PMF incentiva estudantes a falarem sobre ciúme e o fim da pandemia
Educadora de Língua Portuguesa, Claudia Natividade, trabalhou com turmas do 9º ano contos psicológicos e o gênero romance

foto/divulgação: Arquivo SME

Professora Claudia Natividade no espaço home-office.

 

O sentimento “ciúme” e suas consequências e a pandemia do coronavírus registrado pela visão de uma pessoa idosa. Esses temas foram trabalhados por estudantes do 9º ano do ensino fundamental da Escola Básica Municipal de Florianópolis Maria Tomázia Coelho, localizada no Santinho. A proposta foi da professora de Língua Portuguesa Claudia Natividade, que abordou com as turmas os contos psicológicos e o gênero literário romance.
 
O conto psicológico é uma narrativa curta, geralmente escrita na primeira pessoa do singular. Centrada no eu interior da personagem. As reflexões são mais importantes do que os fatos e as ações. Num primeiro momento, os estudantes leram e interpretaram contos psicológicos e, em seguida, abordaram a questão das emoções, entre elas o ciúme, em trechos do livro Dom Casmurro, do escritor Machado de Assis. A obra trata das memórias do personagem Bento Santiago, cujo apelido dá título ao livro.
 
Na terceira parte, os alunos pesquisaram o que é  essa narrativa , suas principais características e os tipos de narradores. Nas últimas fases da atividade, eles escreveram os próprios contos psicológicos e realizaram uma produção audiovisual.
 
Três turmas de 9° ano do ensino fundamental participaram da atividade. E entre cerca de 90 estudantes, aproximadamente 90% deles fizeram tanto vídeo quanto texto sobre o tema. A grande maioria da turma escolheu discorrer sobre ciúmes. “Algumas conversas individualizadas nos fizeram perceber que os estudantes tinham muita necessidade de falar sobre como se sentiam nesse momento.” explica a professora.
 
 
O medo de perder quem ama
 
“Ciúme, um sentimento? Um defeito? Uma qualidade? Saudável? Eu não tenho resposta para essas perguntas, mas apenas sinto. O ciúme que a gente sente tem a ver com o medo, medo de perder quem ama, medo de perder o que a gente acha que é nosso, mas, é possível perder algo que nunca lhe pertenceu?”.  Assim se expressou a estudante Luana Nunes Viana.
 
“Não posso admitir que alguém, além de mim, possa tê-la ao seu lado. Talvez seja egoísmo, possessividade ou apego por uma pessoa que pertence a outro”, narra a aluna Heloísa Cauduro.
 
 
Seja o amor da sua vida
 
A estudante Gabriela Schultz Biason gravou um trecho do conto psicológico dela envolvendo uma psicóloga e uma paciente.  A psicóloga, em seu consultório, está tomando café e lendo o livro “Seja o amor da sua vida”, de Guilherme Pintto. A paciente chega e começa a desabafar.
 

“Já havíamos completado um ano de namoro. Achei que era só ciúmes. De repente, não podia sair mais com minhas amigas. Só usava roupas compridas  que cobrissem o meu corpo e os hematomas. Me sinto culpada por ter confiado tanto nele e não ter denunciado quando tive a chance”. A psicóloga intervém e diz que a culpa não é dela, que ela é uma vítima. “Ele é um homem possessivo”. A paciente chora. A psicóloga sente raiva do rapaz. Mas, feliz por poder te ajudado a sua paciente a superar o drama.

 
 
Em meio à pandemia, nasce uma amizade
 
No vídeo gravado pelo estudante Vitor Leite de Camargo sobre a pandemia, ele relata a história da vizinha, dona Carmén, de 72 anos, que vivia antes do coronavírus alegre e com muita energia. Depois, começou a passar os dias em frente à TV e sem ânimo. Joaquim, o marido dela, 70 anos, saía para visitar a irmã, dona Benona, que se encontrava doente no hospital. 
 
Em razão da Covid-19 Joaquim também ficou acamado, vindo a falecer. Deprimida, como se o mundo tivesse desabado para dona Carmén. Ela teve vontade de se matar, disse à mãe de Vitor Leite. “Agora, elas são boas amigas, até estão fazendo uma hortinha juntas”.
 
 
Satisfeita e orgulhosa
 
A atividade, que já havia sido iniciada presencialmente, foi interrompida por conta da quarentena. Os estudantes ficaram impossibilitados de darem continuidade às discussões em sala após a leitura dos contos, mas conseguiram realizar as etapas de maneira online, pelo Instagram e pelo Portal Educacional da Prefeitura Municipal de Florianópolis. 
 
“Com o início das aulas, através do Portal Educacional da PMF, demos continuidade à leitura de trechos do livro Dom Casmurro, mas como muitos estudantes ainda não tinham possibilidade de acessar o material e as discussões presenciais não seriam possíveis, optou-se por disponibilizar um resumo do livro e alguns vídeos a respeito da obra e do seu autor”, diz a professora.
 
Claudia ainda frisa que ficou muito satisfeita e orgulhosa dos estudantes da turma. “Foi muito além do que eu esperava quando lancei a proposta de falar sobre ciúme”.
 
“Eles se sentem valorizados. E para mim é muito gratificante poder estimulá-los ainda mais nesse momento tão complexo” comenta a educadora.
 
 
Chega de machismo e violência
 
O próximo passo da professora Claudia  é colocar em pauta a  valorização da mulher, representações femininas na literatura, a questão da falta de empatia com a posição das mulheres na sociedade e a violência no sentido mais amplo. “Muitos estudantes vivenciam situações de violência dentro de casa, inclusive, e instigá-los a falar sobre isso de alguma forma contribui para a formação de indivíduos capazes de desconstruir discursos e ações machistas e violentas."

 


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