Secretaria Municipal de Educação
O avô materno de Kauany Stein, 14 anos, José Mário de Andrade, era representante comercial de calçados. Tinha um poder de conversa muito grande. A mãe e o pai também são batalhadores.
Em 2009, nem Silvana nem Ivan possuíam o ensino médio. Silvana formou-se em Pedagogia, em 2014, e o marido em Educação Física, em 2015. Depois de 20 anos fora da escola, ele obteve o melhor índice acadêmico do curso da Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC.
Com essas inspirações de herança, Kauany, que nasceu prematura de sete meses e ficou 31 dias na UTI do Hospital Regional de São José, tomou gosto pela fala, por se expressar e de encarar desafios.
Como estudante da Escola Básica Municipal de Florianópolis Batista Pereira, no Ribeirão da Ilha, venceu a etapa local do concurso “Oratória na Escola”, promovido pela Junior Chamber International (JCI), em parceria com a Prefeitura da Capital, cujo tema era: “Eu prefeito (a)”.
Agora, ela se prepara para representar a cidade na etapa regional, que ocorrerá em julho em Concórdia, Meio-Oeste catarinense. Se vencer, irá para São Bento do Sul, também no Estado, participar em outubro da final nacional. O concurso tem por meta incentivar os alunos a dominarem a arte de falar em público.
Kauany quer ser advogada, especializando-se em Direito Trabalhista. A escolha condiz com sua habilidade com a fala. “Pesquisando cursos, descobri que o Direito se encaixava perfeitamente comigo.”
“A rede municipal de ensino de Florianópolis tem levado para outros municípios do Estado e do país excelentes exemplos. É o caso de Kauany, dedicada e que recebe o suporte da escola e da família. Estamos orgulhosos da nossa aluna”, sublinha o secretário municipal de Educação, Maurício Fernandes Pereira.
Cinco minutos decisivos
A garota terá de três a cinco minutos para discorrer sobre o novo tema: “O que é ter sucesso na vida”. Em análise, a emoção pela voz. Pronúncia, modulação, coerência, segurança e motivação fazem parte deste item.
O conteúdo da mensagem é verificado por intermédio da fidelidade ao tema, argumento, estrutura do discurso, clareza das ideias e conclusão da fala. Vale ponto a expressão corporal: a postura do orador, os gestos, contato visual com as pessoas, mudanças na expressividade facial e posicionamento no palco.
Eu prefeita
A disputa local teve duas etapas: a primeira aconteceu dentro do colégio, quando a banca avaliadora escolhia o representante da unidade na competição. Já a segunda foi realizada com todos os representantes das escolas do município, no Centro Integrado de Cultura (CIC), no ano passado.
O concurso consistia em construir um texto com o tema “Eu prefeito (a)”, provocando nos alunos indagações sobre posturas, opiniões e como fazer a diferença na comunidade em que estão inseridos.
Além de treinar na sala de aula, para os colegas e a professora, ela se preparava inúmeras vezes em casa, com os pais como publico. “Treinei tantas vezes que meus pais até decoraram o texto comigo”, diz, brincando.
Aluna dedicada
Kauany, que estava no oitavo ano durante a etapa local, teve a orientação da professora de Língua Portuguesa Jaqueline Nair da Costa Nunes durante este processo. Segundo ela, a professora a auxiliava na construção do texto, corrigindo certos pontos.
Jaqueline conta que Kauany sempre foi uma aluna dedicada e não precisou de muita ajuda nesse período de preparação. “Minha contribuição iniciou quando sugeri que escrevesse o discurso e trouxesse para revisão.
Então, levei para casa e fiz pequenas sugestões de alteração de palavras. Daí em diante, foi lhe cedido espaço nas aulas para a prática do discurso”.
A professora sempre dava sugestões de possíveis mudanças e de acordo com ela, Kauany sempre estava aberta a ouvir as recomendações.
Nervos à flor da pele
Kauany ficou muito nervosa no dia da apresentação na segunda etapa local. “Quando cheguei lá, pensei que ia desmaiar”, relata. Mas quando chamaram o nome dela e lhe disseram que era a sua vez de apresentar, ela diz que subiu no palco, respirou fundo, e todo o nervosismo desapareceu.
Como prêmio, a menina recebeu um kindle, um aparelho para a leitura de livros online, e um curso de inglês gratuito, além da oportunidade de representar a cidade na etapa regional do concurso, em Concórdia, nos dias nos dias 14, 15 e 16 de julho.
Garota focada
Segundo a mãe, Silvana Carvalho de Andrade, que é professora substituta da educação infantil, Kauany já começou o treinamento para a nova disputa. “Ela treina três vezes por semana. São dois ensaios por noite”, conta.
O novo discurso já está escrito há dois meses sobre “O que é ter sucesso na vida”. Mas, está guardado a sete chaves, conforme a estudante.
Avô deixa tudo de lado para vir ao encontro da neta
A torcida é grande pela manezinha da Escola Batista Pereira. A mãe, 38 anos, e o pai, 44, já se planejaram para estarem em Concórdia.
O avô, 78 anos, mora em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Mas já disse à neta que não perderá a oportunidade de vê-la lutar pelo título de melhor oradora do Estado.
Também quer matar a saudade da netinha com a qual não se encontra pessoalmente há três anos. Deixará tudo de lado, aulas de teclado e curso de massagem para engrossar o coro de “#somostodoskauany”, juntamente com os colegas da estudante e professores.