Secretaria Municipal de Educação

24/03/2021 - Educação
Para professora de Espanhol, o estudo das relações étnico-raciais deve estar sempre presente
A afirmação é de Janete Jorge, autora das fotos que ilustram a campanha “Por uma Educação Antirracista”

foto/divulgação: professora Janete Elenice Jorge

“Infelizmente não somos todos iguais”. Papo reto da professora Janete Elenice Jorge da rede municipal de Florianópolis.

Tendo como referências a Matriz Curricular para a Educação das Relações Étnicos-Raciais (Erer) e pesquisas de educadoras negras da rede municipal de ensino de Florianópolis, como a pesquisa da bibliotecária Sandra Regina Fontes, a professora de espanhol Janete Elenice Jorge vem desenvolvendo ações pedagógicas de combate ao racismo desde 2015, ano que ingressou na rede municipal de ensino.

 

 

 

Ciente que o ensino da Erer está nos documentos regulamentadores oficiais da educação, a professora realizou vários trabalhos no ensino fundamental e na Educação de Jovens, Adultos e Idosos. 

 

 

 

Três deles foram agraciados com o prêmio Professor Nota 10, oferecido pela Secretaria Municipal de Educação e Câmara de Vereadores aos profissionais que promovem experiências de ensino inovadoras.

 

 

 

O trabalho da professora, que tem formação em Letras Espanhol, mestrado e doutorado em Literatura, desconstrói a ideia equivocada, que muitas vezes habita o imaginário docente, de que a temática só possa ser trabalhada em datas e disciplinas específicas como história e sociologia.

 

 

 

A partir de uma abordagem interdisciplinar, focada nas vivências dos estudantes enquanto sujeitos diversos e protagonistas das práticas pedagógicas, a docente envolveu estudantes e comunidade em suas propostas.

 

 

 

Racismo e desigualdades sociais

 

 

 

No ano de 2016 quando era coordenadora do Núcleo de Educação de Jovens, Adultos e Idosos - EJA Sul I, na comunidade da Costeira de Pirajubaé, a professora coordenou a ação pedagógica “A pesquisa e a leitura como princípios educativos no primeiro segmento”.

 

 

 

Por intermédio da pergunta “Quem somos nós?” os estudantes foram estimulados a levantarem questionamentos sobre a ideia de identidade coletiva e a elaborar perguntas a partir de suas realidades.

 

 

 

As temáticas do racismo e desigualdades sociais foram propostas pelos estudantes, o trabalho que envolveu adultos em processo de alfabetização teve um grande impacto na comunidade escolar, levando os estudantes a se apresentarem no Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos (ALFAeEJA) realizado na Universidade Federal de Santa Catarina.

 

 

 

A professora Janete relata que “estimular o protagonismo dos estudantes na ação pedagógica, escutá-los enquanto sujeitos que experimentam diariamente situações racistas e de exclusão social, promover espaços de autoria e construção coletiva, foram medidas fundamentais para o sucesso da proposta”.

 

 

 

Negro é lindo!

 

 

 

No ano de 2019 a professora Janete Elenice Jorge, juntamente com a bibliotecária Sandra Regina Fontes, em colaboração com a mestranda em Educação Gieri Toledo Alves e a maquiadora Isadora Carlos e Souza, realizou o projeto “Beleza Negra na Escola: Promovendo a Diversidade”, na Escola Básica Municipal Osvaldo Galupo, no Morro do Horácio. A ação pedagógica resultou em um ensaio fotográfico com as famílias e estudantes negros com o objetivo de dar visibilidade à beleza negra e promover a autoestima da comunidade.

 

 

 

“Em uma sociedade em que muitas vezes o corpo negro é desumanizado e repugnado é preciso discutir os padrões de beleza impostos que, além de segregar, causam dores físicas e emocionais irreparáveis”, diz Janete.

 

 

 

A professora ainda aponta que o combate ao racismo deve estar presente nas práticas pedagógicas diárias.  Para ela, a Educação das Relações Étnicos-raciais não deve ser somente um tema de novembro, mês da Consciência Negra, bem como é preciso tomar cuidado para não tratar o assunto a partir de estereótipos.

 

 

 

Sobre seu trabalho com a Erer a professora relata:  “sei que minha voz não tem a força da vivência de uma mulher negra que luta pela causa, porque não é meu lugar de fala, mas conheço muito bem os meus privilégios no espaço em que ocupo como mulher branca com doutorado e, por isso, preciso falar a partir do meu lugar”.

 

 

 

Janete Elenice continua: “Eu nunca tive que me preocupar como seria tratada por ser uma mulher branca em uma aula da pós-graduação, em abrir a minha bolsa para guardar meu celular dentro de um estabelecimento comercial ou se minha aparência poderia interferir em uma seleção de trabalho, a cor da minha pele nunca dificultou a minha caminhada ou me fechou portas. É necessário também discutir o racismo sob a perspectiva do privilégio branco”.


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