Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes

30/07/2015 - Cultura
Armazém da Renda é inaugurado no Mercado
Secretaria de Cultura inaugura espaço para não deixar morrer a tradição do bilro

foto/divulgação: Petra Mafalda/PMF

Espaço reservado para compartilhar a arte

Maria da Glória Soares tem uma história de vida muito parecida com a de outras rendeiras de Florianópolis. Filha de rendeira e pescador, ela aprendeu a fazer renda de bilro aos sete anos, mas deixou o ofício ainda jovem em busca de um salário fixo que o rendado não podia garantir. Aos 65 anos, Glorinha voltou a rendar em sua almofada de bilros para manter viva uma tradição que chegou à Ilha de Santa Catarina no século 18, com as primeiras famílias açorianas. Junto com outras artesãs de várias comunidades, ela integra a equipe do Armazém da Renda – espaço cultural inaugurado no Mercado Público, nesta quinta-feira (30), pelo prefeito Cesar Souza Junior.

“Desde pequena eu faço renda de bilro. É minha paixão. Agora eu tento passar esse conhecimento para não deixar morrer a tradição. Esse espaço é muito importante para incentivar as rendeiras. É um sonho realizado”, disse Maria da Glória, mostrando orgulhosa as netas Isadora, 8 anos, e Rafaela, de 14 anos, que já seguem os passos da avó.

Ao lado do secretário de Cultura, Luiz Moukarzel, o prefeito Cesar Souza Junior conheceu o espaço e conversou com as rendeiras e recebeu uma pequena almofada de bilro e uma peça de renda de presente. Além de ouvir as cantorias feitas de improviso, a tradicional ratoeira, o prefeito também improvisou um verso para homenagear as artesãs. O evento contou com a presença de secretários municipais, vereadores, representantes de entidades ligadas ao comércio e rendeiras.

Criado pela Secretaria Municipal de Cultura, o Armazém da Renda vai abrigar exposições, acervo audiovisual e oficinas demonstrativas de renda de bilro, incentivando também o convívio social e o intercâmbio cultural entre as artesãs. O centro de referência tem como objetivo reconhecer e valorizar o ofício das rendeiras no mundo contemporâneo, fortalecendo as formas de transmissão de saberes e fazeres tradicionais referentes a essa produção artesanal em Florianópolis, que reúne cerca de 300 rendeiras em diversos núcleos nas comunidades.

Aspectos históricos e culturais envolvendo a atividade rendeira serão apresentados em exposição permanente no Armazém da Renda, por meio de painéis informativos que apresentam a dinâmica da produção, desde a coleta e beneficiamento da matéria prima para fazer os bilros, a almofada e o caixote, até os tipos de rendas e pontos mais comuns no feitio de toalhas, roupas, trilhos e peças em metro. No local, o visitante também poderá ver algumas rendeiras produzindo e adquirir produtos feitos ao vivo pelas próprias artesãs ou nos núcleos formados nas comunidades.

Onde há rede, há renda 

Ainda muito presente nas comunidades pesqueiras da Capital, a arte do rendado com bilros foi introduzida na Ilha de Santa Catarina pelos imigrantes açorianos que vieram morar na antiga Desterro, no século 18. Na vila, enquanto os homens dedicavam-se à agricultura e à pesca, as mulheres cuidavam dos afazeres domésticos.

No tempo livre, elas teciam em almofadas de bilro as rendas que enfeitavam a casa e o enxoval das moças, e que também vendiam para garantir o sustento da família quando os maridos, pais e filhos ficavam dias e, às vezes meses, pescando em alto-mar. Essa tradição cultural, passada entre gerações, originou o ditado popular que diz que “onde há rede, há renda”.

Uma das características que diferencia a renda de bilro das demais modalidades de bordado é que nela os pontos são feitos no ar, sem necessidade de usar um tecido como base. Entre os tipos produzidos em Florianópolis, destacam-se as rendas Maria Morena, Tradicional, Céu Estrelado, Cocada, Margarida, e Tramoia – a única que é feita com sete pares de bilro, sendo mais comum entre as rendeiras da Lagoa da Conceição, Ribeirão da Ilha, Armação e Pântano do Sul.


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