Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes

30/04/2010 - Cultura
Florianópolis terá Centro de Referência da Mulher Rendeira
Projeto inclui criação do Casarão das Rendeiras com loja, biblioteca e centro museográfico para guarda de acervo de fotos, vídeos, folhetos, livros e outros materiais de registro da renda de bilro, além de espaço para oficinas de repasse de saberes tradicionais desse artesanato.

foto/divulgação: Dieve Oehme

Rendeiras são referência cultural da cidade

A renda de bilro vai ganhar um espaço permanente de exposição e valorização como referência cultural de Florianópolis. Para isso, a Prefeitura da Capital e a Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC) assinam nesta segunda-feira (03/05), às 15h, um termo de cooperação com o Ministério da Cultura (Minc), por meio da Associação Cultural de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro (Acamufec). O convênio, que será formalizado no Casarão da Lagoa, na Lagoa da Conceição, viabilizará a transformação do imóvel no Centro de Referência da Mulher Rendeira.


A ação faz parte do Programa Nacional de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural (Promoart), que está sendo implantado de forma piloto em 65 municípios do Brasil, integrado ao Programa Mais Cultura do Minc. Apenas duas cidades de Santa Catarina foram selecionadas nessa fase: Florianópolis, com a renda de bilro; e Itaiópolis, com os bordados ucranianos e pêssankas de Iracema. A seleção dos municípios levou em conta a importância cultural da atividade, a alta qualidade do artesanato, além da variedade de tipologias e técnicas envolvidas no processo de elaboração.

 

Mapeamento cultural

 
A implantação do Promoart em Florianópolis ocorrerá em etapas. A primeira delas inclui a reforma do Casarão da Lagoa para adaptação do espaço ao projeto cultural, que será coordenado pela Fundação Franklin Cascaes. A obra teve que ser autorizada pelo Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), visto que o imóvel é tombado pelo município.


Depois de reformado, o prédio irá abrigar uma sala de exposição permanente com variados tipos de renda de bilro produzidos na Capital. Contará ainda com loja, biblioteca e centro museográfico, com acervo de fotos, vídeos, folhetos, livros e outros materiais de registro desse artesanato. Terá ainda um local para oficinas permanentes envolvendo as rendeiras de modo a garantir o repasse de saberes tradicionais.


O programa terá como primeiro sítio de pesquisas a Lagoa da Conceição, onde será iniciado um levantamento de campo para identificar as rendeiras da comunidade e recuperar a memória de todo o processo artesanal de produção. As informações vão subsidiar a elaboração de um inventário de referências culturais da renda de bilro no município, além de um documentário e um livro de memórias sobre esse artesanato. O objetivo da iniciativa é incentivar a preservação da atividade, evitando que essa tradição cultural secular desapareça.


O Promoart também fornecerá matéria-prima e instrumentos de trabalho para a realização de oficinas com rendeiras consideradas mestres populares para garantir o repasse de conhecimento sobre cantorias, formas de fazer o pique, pontos e almofadas, entre outras atividades. As artesãs participarão ainda de oficinas de gestão, associativismo e formação de preços, visando à organização e possível criação de uma cooperativa de rendeiras.


Paralelamente às ações de apoio à produção, comercialização e distribuição, o programa vai contemplar atividades de divulgação, com a criação de um selo de identidade visual específico, além do fortalecimento de políticas públicas voltadas à valorização do processo cultural e artesanal de produção desse tipo de renda. Estão previstas ainda participações de rendeiras no Salão do Artista Popular, no Rio de Janeiro.


Realizado pela Associação Cultural de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro (Acamufec), por meio de convênio com o Ministério da Cultura (Minc), o Promoart conta com gestão conceitual e metodológica do Centro Nacional do Folclore e Cultura Popular/Departamento de Patrimônio Imaterial/IPHAN e parceria institucional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

 

Na capital catarinense, o programa será coordenado pela Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC), tendo como parceiros a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Núcleo de Estudos Açorianos (NEA) e a Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina.

 

Onde há rede, há renda

 
Não se sabe ao certo a origem da renda de bilro. Alguns pesquisadores defendem que o artesanato surgiu em Flandres, na Bélgica, no século XV, de onde se espalhou pela Europa, em especial para a Itália e França, até chegar a Portugal e arquipélago dos Açores, principais centro de produção. No Brasil, a atividade chegou com os portugueses que trouxeram a arte de fazer renda para enfeitar trajes e alfaias da igreja, além de toalhas, cortinas lençóis e peças de vestuário da nobreza.

 

Na Ilha de Santa Catarina, a renda de bilro surgiu por influência dos açorianos que se instalaram nos municípios do litoral. Os primeiros imigrantes (473 pessoas) partiram do porto de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, rumo ao Brasil, em 21 de outubro de 1747, chegando na antiga Desterro em 6 de janeiro de 1748. Em homenagem a esses antepassados e suas tradições a Lei nº 8030/2009 instituiu em Florianópolis a data de 21 de outubro como Dia Municipal da Rendeira, atendendo à proposição do vereador Edinon Manoel da Rosa (PSB), o Dinho.

 

Para sobreviver naqueles tempos, os homens passavam longos períodos na atividade da pesca, com redes artesanais, enquanto as mulheres ocupavam o tempo livre tecendo fios em almofadas de bilro. As rendas produzidas eram vendidas no mercado da cidade ou trocadas por produtos de necessidade básica para reforçar o orçamento familiar, numa tradição cultural passada de geração a geração, e que originou o ditado popular “onde há rede, há renda”.  

 

Entre as rendas de bilro mais conhecidas, produzidas no município, estão a “Maria Morena” e a “Tramoia”, ou renda de sete pares, que é considerada um produto típico de Santa Catarina, produzida principalmente por artesãs do Ribeirão da Ilha, Santo Antônio de Lisboa e Lagoa da Conceição. Para preservar a atividade e promover a troca de conhecimento entre as rendeiras, a Fundação Franklin Cascaes mantém um núcleo de oficinas de renda no Centro Cultural Bento Silvério, mais conhecido como Casarão da Lagoa, na Lagoa da Conceição, desde a década de 1990.


 

Serviço:

 

O Quê: Assinatura de convênio para implementação do PROMOART (Programa Nacional de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural)


Quando: Segunda-feira (03/05) – 15h


Onde: Centro Cultural Bento Silvério – Casarão da Lagoa

          Rua Henrique Veras do Nascimento nº 50

          Lagoa da Conceição
 
 


galeria de imagens