Todos os ônibus do sistema contam com assentos preferenciais destinados aos idosos, gestantes, deficientes, mães com criança de colo e obesos. Entretanto, por muitas vezes esses assentos não são respeitados e obrigatoriamente essas pessoas passam a viagem inteira em pé.
Por esse motivo, a Secretaria de Mobilidade Urbana lança uma campanha de conscientização sobre a importância desses assentos preferenciais, solicitando aos passageiros que cedam seus espaços nos bancos para pessoas nas condições expressas em lei. A campanha, que já vem sendo veiculada nos televisores dos terminais urbanos, também contará com busdoors, que circularão em toda a cidade de Florianópolis a partir da próxima semana.
De acordo com o art. 3º da lei federal nº 10.048, “as empresas públicas de transporte e as concessionárias de transporte coletivo reservarão assentos, devidamente identificados, aos idosos, gestantes, lactantes, pessoas portadoras de deficiência e pessoas acompanhadas por crianças de colo”.
A capital tem quase 64% da frota adaptada com elevadores. A norma da ABNT 14022 estipula prazo para que até 2024 todos os veículos possuam esse equipamento, mas isso deve ocorrer antes. “Com o sistema de renovação da frota, conseguiremos isso em cinco anos. Além disso, 100% dos ônibus estão com acessibilidade nos demais itens, como assentos e balaústres”, garantiu o secretário de Mobilidade Urbana, Vinicius Cofferri.
Espaço do deficiente
Não há como evitar, porém, que pessoas fora do grupo prioritário utilizem os assentos. É preciso contar com o bom senso e o respeito dos usuários.
Ivanildo de Oliveira,34, é deficiente físico de nascença. Além das dificuldades para se deslocar, enfrenta o desrespeito de outros passageiros. “As pessoas não nos respeitam como seres humanos. Até a expressão com que nos olham quando entram no ônibus é diferente. Além disso, não respeitam o espaço que é destinado ao deficiente físico, dificultando ainda mais nossa instalação”, reclamou Ivanildo.
Sua dificuldade física não o impede de correr atrás dos seus sonhos e das coisas que gosta. Ivanildo trabalha como autônomo e pratica esportes nos tempos livres, como basquete e handebol. “Hoje, eu preciso daquele espaço para me deslocar, amanhã podem ser eles, não se sabe”, concluiu.
Marcia, 37, e Marciene Machado, 35, são irmãs e residem no bairro Jardim Atlântico. Da mesma forma que Ivanildo, são deficientes desde o nascimento. As duas cursam supletivo no centro da cidade e utilizam o transporte coletivo para realizar esse trajeto. Para elas, a ocupação indevida do espaço também é o que mais incomoda.
“Às vezes, quando as pessoas simplesmente não saem do espaço destinado aos cadeirantes, temos que pedir, e isso nos constrange, faz com que a gente se sinta humilhada”, contou Marcia. “Gostaríamos que as pessoas nos respeitassem, respeitassem o nosso lugar. Isso é uma questão de educação. E se fosse com alguém da sua família?”, completou Marciene.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Florianópolis conta hoje com 18,54% da população com algum tipo de deficiência. Deste total, mais de 23 mil possuem deficiência motora.
Consciência com os idosos
Com os idosos, o desrespeito também acontece. E são quase 50 mil residindo na cidade, o que representa 11,5 % da população.
Luzia Arninda da Rosa,86, faz parte desse grupo e conta que já trabalhou no transporte coletivo da cidade, como cobradora, mas hoje é aposentada. Pela força de vontade em ajudar o próximo, Dona Luzia, como é conhecida, realiza diversos trabalhos voluntários e por esse motivo utiliza muito o transporte coletivo. Algo que presencia constantemente e a deixa triste é o fato de muitas mães colocarem os filhos nos assentos preferenciais.
“Às vezes, vejo mães que deixam as crianças ocupando o assento preferencial. Elas não compreendem que esse desrespeito vai fazer parte do futuro daquela criança”, avaliou.
Infelizmente, essas ações fazem parte do dia a dia de pessoas que precisam e dependem dos assentos preferenciais para seguir viagem. Respeitar os idosos é respeitar o próprio futuro. Em meio a essa reflexão, Dona Luzia deixa um recado para quem não respeita os assentos preferenciais: “As pessoas precisam ser conscientes. Hoje, são jovens, mas amanhã serão idosos; por isso, irão precisar desses assentos.”
Respeito com as gestantes
Patrícia Alves de Araújo,27, é estudante de educação física. Gestante há seis meses, pede o respeito das pessoas para facilitar a vida de quem precisa. “As pessoas fingem que estão dormindo para não dar o lugar a quem precisa”, disse.
Embora a gravidez não seja uma doença, é um período difícil para a mulher, por causa das modificações que acontecem no corpo, como a falta de equilíbrio, as dores nas costas, os riscos de traumas e a pressão baixa. É importante que as pessoas tenham esse ponto de vista e respeitem os assentos preferenciais. “Ter noção e respeitar as pessoas que precisam é muito importante”, assinalou a estudante.
Durante cerca de três meses, a campanha irá circular pelos terminais, busdoors e redes sociais, contando com os rostos de Marciene, Dona Luzia e Patrícia para estampar essa ideia.