19/12/2014 - SEMAS - Social
Ex-morador de rua conta sua vida em livro
Alexandre Bandarra está há seis meses na Casa de Apoio Social da Secretaria de Assistência Social, em processo de desintoxicação

foto/divulgação: Vanessa Silveira

Ex-morador de rua lança livro

Logoff, encerramento de uma sessão de conexão. É com esse termo significativo que Alexandre Bandarra, ex-morador de rua, nomeou o livro que escreveu sobre a difícil trajetória que passou com as drogas por mais de 14 anos. Há seis meses, está na Casa de Apoio da Secretaria Municipal de Assistência Social, em processo de dexintoxicação, e lançou seu primeiro trabalho para os funcionários da Pasta, que o apoiaram em todo o processo.


Natural de Cruz Alta, Rio Grande do Sul, “o Piloto”, como era conhecido nas ruas, trabalhou com aviação agrícola por muitos anos no Mato Grosso do Sul. Veio para Florianópolis em 2001 e em 2005 envolveu-se com a bebida alcóolica, que, pouco tempo depois, trouxe junto a dependência química e mais de 40 internações.  

Nas ruas do município, conheceu Paulo Poeta, também morador de rua, que se tornou um grande amigo. Os dois mantiveram uma parceria vendendo poesias e alojavam-se na Praça XV e na Praça dos Bombeiros, no Centro. Em um dos seus textos, denominado “Sentimento”, Alexandre descreve um pouco da relação entre os dois:

“Conheci um indivíduo que se denominava ‘poeta’. Estava nas mesmas condições que a minha, ou seja, acostumado a sentar no banco da praça para beber o fruto de um bom mangueio (pedir dinheiro). O que nos uniu em primeiro lugar foi isso. A atração. Depois a conversa e a identificação na doença. Isso a princípio já foi o suficiente para que, quando um não tinha, o outro tinha, mas não era por isso que o que tinha caísse fora quando o outro não tinha. Aí começou.”

Por muito tempo, dividiram uma boa amizade, mas também o vício, que desgastou a saúde dos dois. “Passamos por experiências difíceis juntos. O Poeta foi meu parceiro nas horas boas e ruins na rua. Nunca pensei que a dependência química fosse capaz de me unir a uma pessoa com o mesmo problema que eu, e resultar em uma grande amizade”, contou o Piloto.

De volta à cidadania


Há pouco mais de seis meses, Alexandre aceitou o convite da equipe da Abordagem Social e está na Casa de Apoio. Hoje, recebe todo a ajuda necessária para uma nova vida sem as drogas. “O Poeta já conhecia a Casa, morou lá por cinco meses, mas depois recaiu. Foi ele quem me apresentou esse lugar, que chamava de ‘Porto seguro nas tempestades da vida’, e que agora é o meu porto também”, disse.

Entre as atividades realizadas no local, o Piloto sentiu-se atraído pelas oficinas de informática, em que os próprios moradores da Casa de Apoio escrevem textos para um blog. “Através da escrita não me senti mais só. Pude externar, através das palavras, o que há no meu íntimo, desafabar, e contar um pouco do que sou e da minha história, foi aí que surgiu a ideia do livro”, disse.

Em dezembro nasceu Logoff, um livro terapêutico sobre as superações da vida nas ruas e contra a dependência química. Esta foi uma parceria com a Editora Pistis, que acreditou na ideia e lançou a obra, que é vendida pelo próprio Piloto por R$ 15,00, dinheiro que servirá para a ressocialização dele.

Conheça o blog da Casa de Apoio Social do Jardim Atlântico: LINK


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