29/08/2016 - RESIDUOS - Comcap
Daniela implanta 1ª horta comunitária do Norte
Quarenta pessoas participaram do mutirão e plantaram 2,2 mil mudas de hortaliças

foto/divulgação: Adriana Baldissarelli

Mutirão de implantação da horta comunitária da Daniela

Moradores da Daniela implantaram sábado (27) a primeira horta comunitária do Norte da Ilha. Em torno de 40 pessoas colocaram a mão na terra para plantar 2,2 mil mudas de hortaliças e sete árvores frutíferas numa área verde de uso público. No Sul, já há horta e compostagem no Parque Cultural do Campeche (Pacuca).


Na semana anterior, foi implantada a horta modelo no Parque Jardim Botânico, com a participação de 167 voluntários. Com o estímulo da Comcap, Florianópolis experimenta a expansão do fenômeno da agricultura urbana.

 

A comunidade organizou o mutirão e a Comcap forneceu composto orgânico e cepilho (podas urbanas trituradas) e suporte técnico. Mais adiante, a intenção é estimular a entrega voluntária de resíduos orgânicos para implantar a compostagem no local, confirma Antonio Carlos de Borja, o Toninho, presidente do Conselho Comunitário Pontal do Jurerê – Praia da Daniela.

 

A psicanalista Rosi Bergamaschi Chraim, que mora na Daniela desde 2000, era uma das 'superfelizes' com o trabalho coletivo. Segundo ela, além da chance “de fazer laço com outro, com o vizinho, e de compartilhar com as crianças o cuidado com a terra, o mutirão mostra que, se a comunidade fizer junto, pode fazer muitas coisas”.

 

Moram no balneário cerca de 1,2 mil pessoas, são 500 casas ocupadas o ano inteiro, no cálculo do presidente do conselho comunitário. Na alta temporada, o número de habitantes mais do que triplica, sendo que entre Natal e Réveillon chega a aumentar em até dez vezes.

 

Veja a opinião de quem participou do mutirão

 

Mais que horta, é troca de ideias e valores 

 

 “É mais do que uma horta, é trocar ideias, valores, energia. Estamos agregando a comunidade para que outras coisas possam crescer além da horta. Temos iniciativas coletivas como terapias, exercícios em que um ajuda o outro, o vizinho solidário , a ideia é integrar para que se torne um bairro mais residencial que de temporada. Está aumentado a quantidade de moradores e a ideia é usar a horta como meio de integração e de aprendizado sobre espaço e cultura orgânica.”

 

  • Julia Bergamaschi Lara, advogada e moradora.

 

 


Atividade durante a semana

 “Moro aqui há um ano. Vim ajudar para aprender e para participar da comunidade, para conhecer as pessoas que também moram aqui. Aqui durante a semana eu fico sozinha, já sou aposentada, então vou ter mais uma atividade com a horta. Nos finais de semana, poderei trazer meus netos, para que aprendam. Eu morava em São José, num verão passei 10 dias na Daniela, e vim morar aqui. Vendi apartamento, comprei uma casa aqui e viemos eu e meu marido pra cá. Ele trabalha ainda e eu passo todo dia aqui.”

 

  • Rosangela Paiva, pedagoga, aposentada.  

 

 

Envolvimento comunitário virou realidade

“Tornou-se realidade. Viemos desde o ano passado, conversando com a Comcap, a ideia partiu do presidente da Comcap, quando sugeriu que numa das tantas áreas verdes da Daniela implantássemos essa horta comunitária. Fizemos curso de capacitação, em compostagem, vimos outras experiências de perto, participamos do mutirão do Parque Jardim Botânico. Tivemos reuniões, a comunidade se envolveu e agora participa. É a comunidade que vai manter a horta, hoje temos 10 voluntários para cuidar da horta e acredito que esse número vá aumentar. Queremos agradecer muito o presidente da Comcap, Marius Bagnati, o Zenilto (Custódia da Silva) que foi um batalhador, não só aqui na Daniela, mas em outros locais. Isso não é o futuro é o presente. Pretendemos fazer compostagem aqui, se a comunidade abraçar, o CCPontal vai dar toda a estrutura e até partir para outras hortas.  Antes o balneário Daniela era só verão, hoje tem muita gente que mora aqui. É como se fosse uma cidade do interior, as pessoas se conhecem e não vão ficar esperando tudo do setor público. É difícil ter um órgão público como a Comcap, onde somos recebidos,  há envolvimento, tem mantido o balneário todo, as áreas verdes, a orla sempre limpos. Há uma parceria muito bacana com todos os empregados da Comcap.  O Conselho Comunitário já comprou bicicletas para os policiais militares, a adoção das áreas verdes, agora estamos fazendo o vizinho solidário, a horta comunitária, a feira de artesanato uma vez por mês e no verão deverá ser semanal. É isso que queremos: o envolvimento das pessoas. ”

 

  • Antonio Carlos de Borja, Toninho, contador, aposentado do Besc, morador da Daniela e presidente do CC Pontaldo Jurerê – Praia da Daniela

 

 

Modelo sintrópico aproveita ao máximo recursos naturais

“Passa de 20 variedades de mudas que plantamos aqui. Foram 2,2 mil mudas de hortaliças e sete árvores frutíferas. A intenção era plantar nove, mas já há duas no terreno, um ingá e um pé de limão, que já estão fazendo a sintropia. Vamos plantar mais sete para completar o canteiro. O local já é bem arborizado, então facilitou o sistema sintrópico, porém antes estivemos aqui aerando a terra e incorporando o adubo. Tivemos de fazer uma poda agressiva no pé de ingá, alguns galhos do limoeiro e pouca coisa nas goiabeiras do entorno para que houvesse maior incidência de sol sobre os canteiros. Essa é a sintropia, faz-se a poda no inverno de forma que no verão a árvore sirva de sombrite natural para o canteiro. Escolhemos a data perfeita para vir fazer essa pode e incorporação, porque estávamos na lua minguante. Da fase minguante para a nova, a seiva começa a descer da copa para a raiz. Na crescente, volta da raiz em direção à copa. De modo que na lua cheia, a seiva esteja toda na copa e na nova, totalmente na raiz. A poda de árvores deve ser sempre feita da minguante para a nova, isso favorece o crescimento, o novo broto. Esse material da poda fica aqui, será reincorporado ao solo e ainda trouxemos bananeiras do Centro de Valorização de Resíduos da Comcap para incorporar nos passeios. A matéria orgânica vai sendo colocada nos passeios, entre os canteiros, onde pode caminhar. Com a decomposição, essa matéria orgânica é reincorporada aos canteiros. Também trouxemos o cepilho da Comcap, resultante da trituração das podas urbanas, que é de alta qualidade. O cepilho serve para revestir os canteiros, mantém a temperatura, preserva a umidade e evita plantas invasoras que disputariam os nutrientes do solo.”

 

  • Zenilto Custódio da Silva, assessor técnico da Comcap

 

 

Sentido de fazer laços com o outro

“Estamos eu minha filha e meu sobrinho aqui hoje. Sou psicanalista, trabalho no Centro e moro na Daniela desde 2000. Estou superfeliz de estar fazendo esse trabalho que tem duas questões importantes. Uma no sentido de fazer laços com o outro, com o vizinho, conhecer as pessoas que moram aqui. Outra do cuidado com a terra, com a plantação, ensinar as crianças no cuidado e ver que, se fizermos juntos, podemos fazer muitas coisas.”

 

  • Rosi Bergamaschi Chraim, psicanalista, moradora desde 2000

 

 

 

Crença na ideia da comunidade

“Vim ajudar por vários motivos, queria aprender sobre esse contato com a terra. Há algum tempo venho procurando aprender sobre o cultivo para subsistência e para o coletivo, para ajudar a comunidade. Acredito nessa ideia da comunidade. Quando surgiu o convite, eu já disse que estaria dentro. Eu quero fazer parte disso.”

 

  • Daniel Salvato, designer, namora uma moradora do bairro

 

 


No meio das frutíferas

“Eu e alguns vizinhos plantamos quase todas essas árvores frutíferas. Na área verde aqui da frente temos até um pau-brasil, que deu origem ao nome do Brasil, aquela história, o original, como diz o manezinho. Tem ingá, olho de boi, jambeiro, jaca, pera, graviola, pitanga, várias frutas. O pessoal colhe, a maioria é educada, compreende que é uma área pública, pega um pouco e leva para sua casa, deixa o restante para os demais.”

 

  • Vitor Tavares Filho, aposentado

 

 

 

Plantar para comer vegetais

 “Eu gosto de plantar e de comer vegetais. Gosto tanto que às vezes até exagero. Como alface, rúcula, beterraba, cebolinha. Ah, obrigada por falar que a minha pele é bonita, deve ser porque como muitos vegetais.”

 

  • Helena Dutra Machado que, com a mãe, Tati, o pai, Marcelo, e o irmão Joaquim, trabalhou do início ao fim do mutirão.

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