31/08/2016 - SMS - Saúde
Média Complexidade: uma espera cada vez menor
Segunda matéria da série:Coragem e criatividade fazem as filas de espera nas policlínicas cada vez menores

foto/divulgação: SMS

UPAs atendem média complexidade e urgências

Com a qualificação da Atenção Primária, a necessidade de buscar outros especialistas diminui. Um exemplo disso ainda é o aposentado Luiz Carlos Grisard – aquele que nos ajudou a contar como funciona a porta de entrada para o SUS da Capital na primeira reportagem desta série. Aos 76 anos de idade e com o acompanhamento de seu histórico de saúde, a médica de família Adriana Borges Fernandes de Matos, que o atende no centro de saúde do bairro Abraão, sabe que ele precisa de uma atenção maior ao coração.

 

É ela quem verifica se está tudo bem com Luiz Carlos frequentemente e pede os exames que o aposentado precisa para saber como anda sua condição cardíaca. Com o check up nas mãos, é na policlínica que ele visita o cardiologista – geralmente a cada seis meses. Mas se ele precisar de uma consulta extra com esse especialista, as notícias são boas: atualmente, a espera para cardiologia em Florianópolis é de apenas cinco dias – nem dá para chamar de fila.

 

Essa é uma conquista que pode ser considerada recente no SUS da Capital. A reorganização do trabalho dos especialistas nas policlínicas e a maior interação com os médicos de família nos centros de saúde ajudou a reduzir as filas para atendimento em muitas das especialidades oferecidas nas policlínicas do município. A maior parte delas apresenta tempo de espera por consulta menor que 30 dias.

 

Coragem e solução

 

Não foi sempre assim. As filas do Sistema Único de Saúde (SUS) para a Média Complexidade (conhecidas popularmente como exames, consultas com especialistas e cirurgias) são problemas de longo tempo e têm várias causas. Até poucos anos atrás, não se sabia o tamanho da espera, nem a evolução dela. Com a demora e a falta de clareza, quase tudo era condenado ao fatalismo: "vai demorar", "o SUS não funciona", "tem que fazer particular".

 

Mas Florianópolis soube dar resposta a esse problema, razão das maiores reclamações dos usuários do sistema, unindo um tanto de coragem à capacidade técnica e criatividade. O primeiro passo foi o reconhecimento de que o problema existe. Desde 2007, a Secretaria de Saúde de Florianópolis assumiu a responsabilidade pelo manejo das filas e começou a trabalhar para resolvê-lo.

 

Mas foi a partir de 2013 que essas ações foram intensificadas, as filas foram mapeadas, cercadas. Foram abertos caminhos para que os pedidos de consultas e exames fossem encaminhados através de um sistema informatizado único, transparente e que cobre toda a Capital. Com esse trabalho, há o reconhecimento do tamanho das filas, sua evolução, a oferta e a demanda e uma razoável previsão para o atendimento.

 

“Estabelecemos mecanismos de priorização para que os pacientes mais urgentes sejam atendidos antes. É um enorme avanço, mas não paramos por aí”, afirma o secretário de Saúde, Daniel Moutinho Junior, médico de Família e Comunidade. A transparência é aliada tanto do paciente quanto do profissional que atua na ponta.

Ao mapear e cercar as filas, a Capital passou a ser capaz de detectar aquelas em maior desequilíbrio e expandir a oferta, contratando serviços para atender à demanda.

 

O trabalho para melhorar o sistema de agendamentos e diminuir as perdas com faltas às consultas e exames é diário, assim como o foco na origem das filas. Já está em funcionamento um sistema de telemedicina e de apoio virtual pelos especialistas que ajuda a qualificar as solicitações e aumentar a resolubilidade dos médicos da Atenção Primária – e diminuir a espera na Média Complexidade.

 

Aos números

 

Todo esse trabalho não é em vão. Florianópolis já alcança resultados importantes. Entre os destaques das especialidades que ainda apresentavam fila de espera está a endocrinologia, que caiu de quase 1,5 mil pacientes em 2015 para 594, em julho de 2016, com tempo de espera médio de menos de dois meses. O resultado foi obtido apenas com o melhor uso da capacidade instalada e ferramentas de apoio ao atendimento de casos mais complexos, o chamado matriciamento.

 

Um outro destaque é a dermatologia, que teve a fila de espera zerada com o uso da teledermatologia, partindo de um histórico de quase 4,5 mil pacientes, em 2014. Estas ferramentas buscam oferecer melhor orientação e agilidade na tomada de decisão clínica, mediante disponibilização de material técnico de consulta rápida diretamente no prontuário eletrônico e a inclusão de consultoria virtual diretamente entre o médico de família e o médico especialista.

 

O objetivo é dar uma resolução ágil a dúvidas geradas durante a consulta, resolução esta que muitas vezes diminui a necessidade por demandas adicionais (por exemplo, encaminhamentos ou outros exames). “Com isso, espera-se melhorar a eficiência e eficácia da rede, contemplando também redução de custos, uso racional dos meios disponíveis, valorização do profissional pelo estímulo ao processo de atualização contínuo e melhor contato e integração entre as pessoas envolvidas”, afirma a diretora de Média Complexidade, Dannielle Godoi.

 

Processo

 

As mudanças começaram com a criação de grupos de trabalho de desenvolvimento das especialidades, que tinham como objetivo melhorar o acesso e qualificar a ofertas de consultas e exames nos serviços de média e alta complexidade (que não são feitos nos centros de saúde). Como parte do processo, cada encaminhamento em fila de espera foi avaliado por uma equipe de especialistas e de médicos de família. Protocolos de acesso foram criados, além de ciclos de capacitação das equipes de saúde da família da rede.


O tempo de espera para especialidades e exames em que o Município atua com capacidade própria, ou seja, que não dependem de contratação de serviços, diminuiu 40% nos últimos dois anos. Dos 47 serviços ofertados dentro das policlínicas, 24 são agendados em até 30 dias. Os demais são executados em no máximo três meses, excetuando-se aqueles dependentes das especialidades cirúrgicas, nas quais o Município depende da oferta de vagas da Secretaria Estadual de Saúde. 

 

Emergência

 

Mas não é só de consulta agendada que se trata a Média Complexidade. Mesmo com os cuidados em saúde em dia, há situações em que o atendimento deve ser de urgência ou emergência. É aí que entram as unidades de pronto-atendimento 24 horas, as chamadas UPAs. Florianópolis conta com duas: uma no Sul e a outra no Norte da Ilha. Cada uma das unidades oferece atendimento de urgência e emergência com risco à vida em clínica médica, pediatria, cirurgia e odontologia, incluindo pequenos procedimentos cirúrgicos e estabilização de pacientes com risco de vida.

 

As unidades de pronto-atendimento, no modelo adotado em Florianópolis, têm por função prestar o socorro imediato e estabilizar o paciente com risco de vida ou urgências de média e alta complexidade, com atendimento pré-hospitalar.

Em cada turno de 12 horas, atuam três clínicos, dois pediatras, um cirurgião geral e um dentista.

 

As UPAs devem ser procuradas apenas em situações de emergência quando há risco à vida (parada cardiorrespiratória, traumatismos, crises hipertensivas, entre outros). Ou nos casos de urgência, como ferimentos com perda de sangue, dor intensa, mal-estar súbito sem causa aparente, falta de ar etc.

 

Alta resolubilidade

 

As UPAs de Florianópolis atendem mensalmente entre 25 mil e 30 mil pessoas, com índice de resolubilidade de 97% dos casos. Quem vem de outros países recebe atendimento pelo SUS nas emergências, com os mesmos direitos dos brasileiros. 

 

Na temporada de Verão, as unidades recebem cerca de 20% mais pessoas todos os dias. Boa parte desta demanda é formada por turistas estrangeiros, em sua maioria atendidos por problemas digestivos, como diarreia, náuseas e vômitos, febre ou problemas causados por abuso da exposição ao sol, pequenos ferimentos ou queimadura por água-viva.

 

A Média Complexidade também cuida da saúde mental, que fica a cargo das equipes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Ao todo, quatro unidades deste tipo oferecem assistência multidisciplinar para crianças e adultos com transtornos, sofrimento psíquico e dependência a drogas e álcool. Todos os meses, perto de 2,5 mil pessoas atendidas – a maioria delas em tratamento intensivo, passando pela unidade quase diariamente.


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