16/11/2022 - SME - Educação
Jornada dupla de Michele: cozinheira e professora na rede municipal de ensino de Florianópolis
Para ela, as duas profissões necessitam de zelo e comprometimento e são partes fundamentais de uma instituição

foto/divulgação: Arquivo SME

Professora e cozinheira Michele de Castro

Pela manhã, Michele de Castro, 33 anos, é cozinheira no Núcleo de Educação infantil Municipal Almirante Lucas Alexandre Boiteux, no Centro de Florianópolis. À tarde, mudança radical. Assume o posto de professora de anos iniciais na Escola Básica Municipal Donícia Maria da Costa, no Saco Grande. 
 
Michele iniciou como cozinheira em 2008, trabalhando sempre na mesma unidade educativa como terceirizada. “Trabalho com muito amor e carinho. Entendo a importância do meu trabalho. Cozinhar pra crianças é muito bom e gratificante, principalmente quando elas vêm falar que a comida tá muito gostosa e mostram que comeram tudo”.
 
Envolvida e muito ativa nas atividades da creche, foi presidente da Associação de Pais e Professores (APP) e  fez parte do Conselho Alimentar Escolar (CAE), que fiscaliza os recursos financeiros direcionados para a alimentação escolar.
 
Casada com o pedreiro Albenir e mãe de Samara Luiza, 17 anos, e de Haygo Lucca, 9 anos, concluiu o ensino fundamental por intermédio da Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJA). Empolgada decidiu ingressar no ensino médio. 
 
Com o diploma na mão, o que fazer? A diretora, na época, do Neim Almirante Lucas, Ana Cristina, fez uma sugestão para Michele. “Ela já tinha sido professora do meu filho e acompanhava meu trabalho na instituição. Ana Cristina deu a ideia de eu fazer um curso de magistério para me tornar professora. Ela disse que eu não me arrependeria, pois via que eu tinha muito jeito com as crianças”.
 
Nos anos 2020 e 2021, Michele cursou magistério no Instituto Estadual de Educação. Contou com o apoio dos profissionais  e direção da creche e da irmã Daniely, que é estudante da biologia da Ufsc.
 
Outros suportes foram fundamentais. “Para que eu pudesse estudar meu marido cuidou um pouco mais dos afazeres de casa. Meus filhos, minha sogra, cada um ajudava como podia. Não foi fácil conciliar os estudos, com o trabalho, e a atenção pra família, tive muitas dificuldades e tive que fazer sacrifícios, mas aos poucos superei cada desafio”.
 
Trabalhando como docente substituta na Escola Básica Municipal Donícia Maria da Costa dá aulas, no período da tarde, para 25 crianças do ensino fundamental, que estão em fase de alfabetização. Ela tem carga de 20 horas semanais.
 
Diferenças e coisas em comum 
 
As atividades, de cozinheira e de professora, exigem habilidades diferentes e proporcionam experiências variadas, diz Michele. O trabalho que desempenha como cozinheira é mais braçal do que o de docente e exige uma disposição física diária, destaca. 
 
Como educadora, observa Michele, os desafios são relacionados à elaboração do plano de ensino, planejamento das aulas, administração da sala de aula, curadoria dos conteúdos e o acompanhamento e avaliação dos estudantes e da própria didática dela.
 
O contato com as crianças também mudou bastante, frisa. Como cozinheira é como se ela trabalhasse nos bastidores. “Meu contato com as crianças é menor e mais restrito aos momentos de servir as refeições”. Já como docente, “meu contato é constante, o que me permite receber um retorno mais imediato e frequente”.
 
Em comum, conforme Michele, as duas profissões necessitam de zelo e  comprometimento e são partes fundamentais de uma instituição. “Quando pensamos nos nossos estudantes, é preciso ter uma visão global sobre cada indivíduo e isso inclui compreendê-lo em diferentes ambientes, situações e interações”.
 
Dessa maneira, enfatiza, fica fácil entender que a alimentação saudável, de qualidades e balanceada, também está relacionada ao desempenho e ao desenvolvimento cognitivo das crianças.  “Numa instituição educacional todas as partes devem se complementar e cumprir seu  papel, e isso inclui, dentre muitos espaços, a cozinha e a sala de aula”. 
 
Para Michele, sem professora não há aula e sem a equipe da cozinha não tem comida tampouco atendimento às crianças. “Ambas são partes essenciais de um todo”. 
 
Novas mudanças por aí
 
Ela deixará de lado as panelas, os pratos e os talheres no final do ano.  Encerrará a trajetória de cozinheira para se dedicar integralmente ao magistério. Para tanto, irá ingressar no curso superior de pedagogia.
“Eu gosto  muito de trabalhar em sala, quero muito continuar e chega uma hora na vida que a gente se identifica com a profissão.  Meus queridos alunos me dão esse impulso,  através das demonstrações de carinho e afeto”.


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