02/09/2016 - SMS - Saúde
Vigilância e Dibea: aqui todos usam o SUS
Última da série:Agindo como sentinelas, profissionais dessa área garantem controle de qualquer situação que possa colocar em risco a saúde pública

foto/divulgação: SMS

Sebastião Valter dos Santos, na vacinação

Luiz Carlos Grisard, de 76 anos, é o fio condutor desta série de reportagens produzida para que as pessoas conheçam melhor como funciona o Sistema Único de Saúde (SUS) de Florianópolis. Em sua mais recente visita ao centro de saúde do bairro Abraão, onde ele é atendido, o aposentado contou que tem uma família grande: três filhos e muitos netos. “Muito bem criados e encaminhados”, orgulha-se. Ao contrário dele, todos são usuários de planos de saúde.

 

O que Luiz Carlos não falou, mas de alguma forma deve saber, é que todos são, também, usuários do SUS - assim como ele. É no setor de Vigilância em Saúde que isso fica mais evidente. Da carteira de vacinação que os bebês ganham ao nascer à qualidade da comida em restaurantes ou supermercados. Da notificação e acompanhamento de doenças infectocontagiosas à realização de eventos ou abertura de novas empresas.

 

Até a saúde dos animais de estimação ou daqueles que vivem nas ruas: nada passa batido por essa equipe de profissionais que se mantém como uma verdadeira sentinela da saúde pública do município.

 

Big brother

 

Para facilitar o entendimento, a Vigilância em Saúde pode ser explicada assim: funciona quase como um “big brother”, analisando permanentemente a situação de saúde da população, controlando possíveis riscos e danos e garantindo a integralidade da atenção à saúde. Todos os fatores e as pessoas são observados, o tempo todo. A ideia é que se consiga prever possíveis problemas e agir para que eles não ocorram – ou ao menos minimizar seus impactos. Por isso, quando há qualquer sinal de alerta, a equipe aciona e mobiliza as demais áreas relacionadas à rede de saúde para agir.

 

Na Vigilância Epidemiológica, por exemplo, que é um dos setores de sentinela, este sinal de alerta pode vir tanto na forma de surgimento ou evolução de uma doença (como a zika, a Aids ou a gripe, para citar as mais recentes e constantes na mídia), como na indicação de que aumenta, em determinados lugares da cidade, o número de pessoas que opta por não participar das campanhas de vacinação.

 

Este é um alerta real e motivo de preocupação para quem não quer ver sua história ser repetida. Como o Sebastião Valter dos Santos, um morador do bairro Coqueiros, em Florianópolis, que contraiu poliomielite na infância. Pode parecer muito distante, mas isso foi há pouco mais de 50 anos. “Sempre participo das campanhas, faço questão de mostrar as consequências de não estar protegido, de não dar atenção à saúde como deve ser. Para que a minha história não volte a acontecer”, contou Sebastião, no lançamento da última campanha de multivacinação, em Florianópolis.

 

E quem quer perder o mérito de ser o país que erradicou a pólio? O Brasil sempre foi uma das referências mundiais na eficiência de suas campanhas de vacinação. Tanto que a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) certificou o país, em 1994, como área livre do Poliovírus Selvagem (causador da poliomielite). Em março de 2014, porém, o vírus foi detectado em uma amostra de esgoto coletada no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP).


Outro fato destaca a importância destas campanhas – e, de quebra, da vigilância constante: de 2000 a 2013, o país não havia registrado novos casos autóctones de sarampo. Em 2014, entretanto, o vírus foi reintroduzido no Brasil, resultando em 596 casos da doença no período, concentrados especialmente nos estados do Ceará e de Pernambuco.

 

Além das doenças infecciosas, todos os fatores que podem influenciar a saúde das pessoas ficam sob a mira da Vigilância Epidemiológica, que estuda as causas de óbitos e internações hospitalares, acidentes de trânsito, violência e hábitos alimentares, entre outras. Tudo para entender como o comportamento das pessoas e a organização da cidade podem ajudar a melhorar a saúde de todos.

 

Muito mais

 

Nessa história toda, numa primeira leitura, ainda pode parecer que os filhos e netos de Luiz Carlos, já crescidos, independentes e bem-sucedidos, não têm mais nada a ver com o SUS. Não é bem assim. O “big brother” da vigilância está de olho em tudo para que possa ser capaz de eliminar, diminuir ou, melhor, prevenir riscos à saúde. Dos produtos que consumimos em restaurantes e supermercados aos cuidados com saneamento – tudo o que pode atingir direta ou indiretamente a saúde das pessoas passa pelo crivo dessas equipes sentinelas.

 

Aqui entra a Vigilância Sanitária, que em Florianópolis optou pelo caminho da educação, em vez da punição, para atingir seus objetivos. Não significa, claro, que não haja infrações, penalidades, multas. Mas a orientação é o foco dos profissionais que atuam nesse setor. Um dos bons exemplos disso foi a criação de uma ferramenta que ajuda na qualificação e agilidade nos processos de liberação dos alvarás sanitários. A intenção é reduzir em pelo menos 50% o tempo médio de espera para a regularização dos estabelecimentos.

 

Para isso, foi implantada a autoinspeção sanitária, que diminui a demanda por vistorias presenciais nos lugares onde há menor risco sanitário. Com ela, uma relação de confiança entre os fiscais e os proprietários de estabelecimentos. E a liberação das equipes de fiscalização para atuar mais fortemente em estabelecimentos com maior risco, educação sanitária e mais agilidade no atendimento de denúncias. “Antes mesmo de receber vistoria da fiscalização, o proprietário já sabe quais são as exigências para o desenvolvimento da atividade em seu segmento”, conta Artur Amorim Filho, gerente de Vigilância Sanitária de Florianópolis.

 

Melhores amigos

 

Não ficam de fora aqueles que têm sido apontados há muito tempo como os melhores amigos do homem. E o melhor jeito de falar sobre a atuação da Diretoria de Bem-Estar Animal e do Centro de Controle de Zoonoses, que atuam lado a lado, mesmo de forma independente e em diferentes frentes de ação, é lembrar de um recente resgate no bairro Jardim Atlântico, região continental de Florianópolis.

 

Eram quatro filhotinhos de cães amontoados dentro de uma toca de barro, em meio à mata fechada, recém-nascidos de uma cadela abandonada na região. O terreno baldio de difícil acesso não impediu que a equipe fizesse o resgate e avaliação veterinária dos pequenos, que foram levados à sede da unidade para castração, vacinação, microchipagem e posterior adoção.

 

A Dibea tem capacidade para abrigar 80 animais abandonados, em situação de risco, entre cães e gatos. A página Adote um Amigo, no Facebook, facilita o acesso aos dados dos animais, identificando-os pelo nome e por suas especificações, com fotos. Quem os leva para casa não precisa se preocupar com a primeira vacina ou a castração, no caso de terem mais de seis meses.

 

Os animais disponíveis para adoção já passaram por estes procedimentos, são vermifugados e microchipados (no caso dos cães), antes de serem entregues aos novos donos. A microchipagem dá, ainda, o direito a atendimento ambulatorial gratuito pela Prefeitura de Florianópolis enquanto viverem, independentemente da renda do dono.

 

Mas a relação da saúde dos animais com a das pessoas vai além da chamada “carrocinha”. O Controle de Zoonoses ajuda a educar o público para o controle da população de animais domésticos e sinantrópicos – aqueles que não são domésticos, mas convivem com as pessoas e podem transmitir doenças. É o caso de morcegos, pombos, ratos, abelhas e mosquitos, entre outros. Assim como a relação de todos com o SUS vai muito além do que grande parte das pessoas possa reconhecer.

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