Conselho Municipal de Política Cultural de Florianópolis

31/03/2011 - Cultura
Centro de Referência e Fundo de Cultura serão lançados nesta quinta-feira
Eventos acontecem no Centro Cultural Bento Silvério, na Lagoa da Conceição, às 19h, com presença de representantes do Ministério da Cultura (MinC)

foto/divulgação: Marina Gastaldi

Casarão das Rendeiras pretende fortalecer e valorizar a atividade de fazer renda de bilro

As rendeiras de Florianópolis ganham um espaço coletivo para produção, exposição e valorização dessa atividade artesanal como tradição cultural da cidade. Nesta quinta-feira (31/03), a Prefeitura da Capital e a Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC) lançam o Centro de Referência da Renda de Bilro de Florianópolis, na Lagoa da Conceição, em parceria com a Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina e o Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural (Promoart), do Ministério da Cultura (MinC). O lançamento do Casarão das Rendeiras acontece às 19h, com apresentação da Orquestra Escola, abertura de exposição do artista plástico Jone Cezar de Araújo, show de Valdir Agostinho e homenagens.

 

Na ocasião também será lançado o Fundo Municipal de Cultura, com assinatura de decreto pelo prefeito Dário Berger autorizando o aporte financeiro de R$ 1,2 milhão para o lançamento de editais de apoio às culturas. O fundo financiará projetos culturais nas áreas de artes visuais, artesanato, circo, cultura digital, dança, folclore, leitura, literatura, música, ópera, patrimônio histórico arquitetônico, pesquisa em arte e cultura, radiodifusão e cultura popular, entre outras áreas.

 

Casarão das Rendeiras

 

O Centro de Referência da Renda de Bilro de Florianópolis vai funcionar junto ao Centro Cultural Bento Silvério, sob administração da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC) com apoio da Casa dos Açores. O "Casarão das Rendeiras" conta com uma sala de exposição sobre a renda de bilro produzida na Capital, além de biblioteca de referência. Terá ainda loja e centro museográfico, com acervo de fotos, vídeos, folhetos e livros, entre outros materiais de registro desse artesanato.  

 

No local serão realizadas oficinas envolvendo as rendeiras para o repasse de saberes tradicionais. A partir de abril, iniciam aulas para crianças e para os adultos, uma delas é a de confecção de bilros – fusos de madeira tão importantes para o feitio da renda como a agulha é para o bordado. Também será realizada uma oficina de gestão para que as rendeiras saibam administrar o próprio negócio e possam se organizar em cooperativa para facilitar a comercialização do artesanato visando à valorização no mercado consumidor.

 

Paralelamente às ações de apoio à produção e comercialização da renda catarinense, o Promoart também contempla atividades de divulgação, com a criação de uma identidade visual específica para o Casarão das Rendeiras, agregando valor aos produtos. A marca será aplicada em sacolas, folheteria, cartões de visita, etiquetas, entre outros materiais especialmente confeccionados para dar visibilidade ao trabalho das rendeiras do município.

 

Estão previstas ainda exposições e participação das artesãs em eventos pelo Brasil, como a feira Mercado Brasil, que acontece no Foyer da Sala Villa Lobos, no Teatro Nacional, em Brasília, de 7 a 10 de abril. As rendas de Florianópolis também vão ter uma feira exclusiva no Salão do Artista Popular, no Rio de Janeiro, em setembro.

 

Ainda este ano será lançado um catálogo etnográfico com fotos e textos sobre as rendeiras do município – produzido a partir de um mapeamento cultural nas comunidades. A publicação visa registrar todo o processo de confecção da renda de bilro desde a coleta do material ao repasse dos saberes entre gerações.  Também será elaborado um documentário sobre este artesanato tradicional.

 

Projeto piloto

               

O Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural (Promoart) está sendo implantado de forma piloto em 65 polos no Brasil, integrado ao Programa Mais Cultura do MinC. Apenas duas cidades de Santa Catarina foram selecionadas para participar dessa primeira etapa, sendo Florianópolis, com a renda de bilro; e Itaiópolis, com os bordados ucranianos e pêssankas.

 

O programa é realizado em nível nacional pela Associação Cultural de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro (Acamufec), por meio de convênio com o MinC, contando com gestão conceitual e metodológica do Centro Nacional do Folclore e Cultura Popular/Departamento de Patrimônio Imaterial/IPHAN e parceria institucional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

 

Na capital catarinense, a ação é realizada em parceria com a Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC) e Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina. A proposta é incentivar a preservação da produção artesanal da renda de bilro, investindo em estratégias para evitar que essa tradição cultural desapareça. O objetivo é tornar a atividade mais conhecida e valorizada por moradores e turistas.

 

Onde há rede, há renda

 

Não se sabe ao certo a origem da renda de bilro. Alguns pesquisadores defendem que o artesanato surgiu em Flandres, na Bélgica, no século XV, de onde se espalhou pela Europa, em especial para a França, chegando a Portugal e ao arquipélago dos Açores – principais centros de produção. Ao virem para o Brasil, os portugueses trouxeram a atividade de fazer renda para enfeitar trajes e alfaias da igreja, e ornamentar toalhas, cortinas, lençois e vestuário da nobreza.

 

Na Ilha de Santa Catarina, a renda de bilro surgiu por influência dos açorianos. Os primeiros imigrantes (473 pessoas) partiram do porto de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, rumo ao Brasil, em 21 de outubro de 1747, chegando ao destino em 6 de janeiro de 1748. Em homenagem a esses antepassados e suas tradições a Lei nº 8030/2009 instituiu a data de 21 de outubro como Dia Municipal da Rendeira, atendendo à proposição do vereador Edinon Manoel da Rosa (PSB), o Dinho.

 

Para sobreviver naqueles tempos, os homens passavam longos períodos na atividade pesqueira com redes artesanais, enquanto as mulheres ocupavam o tempo livre tecendo fios em almofadas de bilro. As rendas produzidas eram vendidas no mercado da cidade ou trocadas por produtos de necessidade básica para reforçar o orçamento familiar, numa tradição cultural passada de geração a geração, e que originou o ditado popular “onde há rede, há renda”.

 

Entre as rendas de bilro mais conhecidas, feitas no município, estão a “Maria Morena” e a “Tramoia”, ou renda de sete pares, que é considerada um produto típico de Santa Catarina, produzida principalmente por artesãs do Ribeirão da Ilha, Santo Antônio de Lisboa e Lagoa da Conceição. Para preservar a atividade e promover a troca de conhecimento entre as rendeiras, a Fundação Franklin Cascaes mantém um núcleo de oficinas de renda no Centro Cultural Bento Silvério, mais conhecido como Casarão da Lagoa, na Lagoa da Conceição, desde a década de 1990, e que agora está sendo chamado de Casarão das Rendeiras.

 

 Serviço:

 

O Quê: Lançamento do Casarão das Rendeiras - integrado ao                      PROMOART (Programa Nacional de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural)

            Lançamento do Fundo Municipal de Cultura

 

Quando: quinta-feira (31/03) – 19h 

 

Onde: Centro Cultural Bento Silvério – Casarão da Lagoa

            Rua Henrique Veras do Nascimento nº 50 – Lagoa da Conceição


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