Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Esporte

08/07/2015 - Cultura
Santo Antônio de Lisboa ganha Casa de Cultura
Espaço cultural leva o nome de Clara Manso de Avelar, moradora que contribuiu para o desenvolvimento do bairro

foto/divulgação: Dieve Oehme

Abertura do centro cultural contou com apresentação musical

O centenário casarão que sediou por quase 50 anos a intendência distrital de Santo Antônio de Lisboa está abrigando agora um centro cultural para valorização e divulgação da história e das memórias da comunidade, que tem forte influência da cultura açoriana. Cedido pela Prefeitura de Florianópolis à Associação de Moradores de Santo Antônio de Lisboa (Amsal), o imóvel foi oficialmente entregue pelo prefeito Cesar Souza Junior e pelo Secretário Municipal de Cultura, Luiz Moukarzel, em um evento realizado na noite de terça-feira (7). A cerimônia contou com a presença do vereador Edinon da Rosa (Dinho), além de artistas, moradores e lideranças da região.

 

Na abertura do novo espaço cultural, denominado Casa de Cultura Dona Clara Manso de Avelar, os convidados foram recebidos com uma intervenção musical da cantora Joana Cabral, com os músicos Mário Moita, Marcelo Muniz, Juliano Melego e Haini Wahlheim. O público também prestigiou trabalhos em renda de bilro e a exposição de fotos “Cantares e Fazeres, um Inventário do Patrimônio Imaterial de Santo Antônio de Lisboa”, registradas pelo jornalista Celso Martins.

 

Encantado com os relatos feitos pelo historiador Sérgio Ferreira sobre aspectos culturais do bairro, o prefeito de Florianópolis sugeriu a realização de eventos para divulgação dessas informações. “A cultura tem uma capacidade transformadora incrível. Que a gente faça desse espaço um local de encontro da comunidade, um espaço de convívio que possa agregar também os jovens”, reforçou Cesar Junior.

 

Atendendo ao “desafio” proposto pelo prefeito, a Amsal programou para 31 de agosto a realização de um sarau cultural, celebrando o Dia Municipal da Açorianidade. Além disso, a Casa de Cultura será incorporada às festividades do Divino Espírito Santo, abrigando o trono da corte imperial durante os festejos que acontecem até dia 6 de setembro. “Esse é um momento histórico para Santo Antônio de Lisboa, e que já era aguardado há muitos anos. Essa casa vai servir para manter vivo o legado que o povo açoriano nos deixou”, disse o presidente da associação de moradores, Claudio Andrade.

 

Projeto prevê implantação de centro de memória

 

Conforme o termo de permissão de uso formalizado pela prefeitura, a gestão do imóvel foi repassada à Amsal, com supervisão da Secretaria Municipal de Cultura. No local, serão realizadas palestras, exposições, oficinas e outras atividades voltadas à revitalização, difusão e manutenção da cultura de tradição oral, representada pela renda de bilro, boi de mamão, Pão-por-Deus, Terno de Reis e pelas festividades do Divino Espírito Santo, entre outras atividades da cultural local. O espaço também vai abrigar no futuro um centro de memória do bairro.

 

“Essa casa vai manter aquilo que temos de mais importante, que é o patrimônio imaterial, a nossa história e nossas memórias. A secretaria está muito feliz com o projeto e será parceira da comunidade para viabilizar as transformações que possam vir a partir desse centro cultural”, observou o secretário Luiz Moukarzel.

 

Claudio Andrade destacou que, além da implantação da Casa de Cultura, outras medidas são necessárias para a preservação da identidade do bairro. Entre elas, citou a revitalização do Centro Histórico e de espaços de memória como a área da bica d’água onde as lavadeiras lavavam roupas, e onde havia um antigo curtume. Ressaltou ainda a importância de estudos para melhorar a mobilidade no distrito e sugeriu a limitação ao tráfego de veículos na Rua Cônego Serpa, permitindo a circulação das pessoas com mais segurança.

 

O prefeito Cesar Souza Junior comprometeu-se a avaliar as demandas apontadas pela comunidade e informou que as obras em andamento na Rua Padre Rohr, em Sambaqui, vão contribuir para a mobilidade no bairro e na região. “Essa obra vai ter um impacto bastante positivo. Quando ela estiver pronta, os moradores de Sambaqui e da Barra do Sambaqui não vão precisar mais passar por dentro de Santo Antônio de Lisboa. São cerca de 20 ônibus por dia que vão deixar de passar por aqui”, explicou.

 

De intendência a Casa de Cultura

 

De acordo com o historiador Sérgio Ferreira, a residência que passa a abrigar a Casa de Cultura Dona Clara Manso de Avelar, situada na confluência das ruas Osni Barbato e Cônego Serpa, foi construída pelo comerciante libanês Salim Mansur José e sua esposa Maria Embarack Mansur, em 1914. No imóvel nasceu a filha do casal, Nazira Mansur (1919-2014), uma respeitada cantora lírica catarinense.

 

Na década de 1950, o imóvel foi adquirido pela Prefeitura, abrigando por quase 50 anos a Intendência do Distrito. Posteriormente, entre 2008 e 2013, a casa foi utilizada como base da Polícia Militar de Santa Catarina na comunidade. Após a desocupação das instalações, com a desativação do posto policial no início de 2014, o antigo casarão retornou aos cuidados da Prefeitura.

 

A casa passou por uma reforma para sediar atividades culturais promovidas pela Secretaria Municipal de Cultura durante a 21ª Festa da Cultura Açoriana de Santa Catarina (Açor), realizada no bairro em agosto de 2014. O sucesso da iniciativa contribuiu para a decisão municipal de dar um destino cultural definitivo ao imóvel, beneficiando a população de Florianópolis, e em especial os moradores do distrito. 

 

Núcleo de resistência cultural

 

Santo Antônio de Lisboa é um dos núcleos mais representativos da cultura de base açoriana. Com uma paisagem natural que encanta moradores e turistas, o bairro ainda preserva um conjunto arquitetônico singular com características luso-açorianas, especialmente no centro histórico da antiga Freguesia de Nossa Senhora das Necessidades, que foi criada em 1750.

 

Considerado um dos mais importantes núcleos comerciais de Santa Catarina nos séculos 19 e 20, o Distrito de Santo Antônio de Lisboa viveu períodos de grande prosperidade. Segundo o historiador Sérgio Ferreira, a região contava com fábricas de açúcar, engenhos de aguardente e de farinha de mandioca, além de moendas de trigo e curtumes de couro, destacando-se também por possuir porto próprio.

 

Posteriormente, o trabalho rural de criação e lavoura, a produção de artefatos de pesca, e as atividades artesanais e agrícolas foram substituídos por outros fazeres ligados ao comércio, sofrendo adaptações com o desenvolvimento da região. “A renda de bilro, a cestaria, o carro de boi, os mecanismos dos engenhos, ganham novos contornos e são contemporâneos de um mundo em acelerada transformação”, escreveu Ferreira no projeto que propõe a criação da Casa de Cultura de Santo Antônio de Lisboa.

 

Homenagem a Clara Manso de Avelar

 

Filha do sargento-mor lisboeta Manoel Manso de Avelar, que foi governante local, Clara Manso de Avelar (1690-1790) nasceu em São Francisco do Sul e veio morar no distrito de Santo Antônio de Lisboa aos 10 anos. Bastante devota de Santo Antônio, casou-se sexagenária com o espanhol Francisco Antônio Branco. Ficou conhecida entre os moradores por sua generosidade.

 

Foi ela que doou as terras onde está sediada a Igreja de Nossa Senhora das Necessidades, e que abrigam também a Praça Getúlio Vargas, a escola Paulo Fontes e o cemitério da comunidade. Sua extrema devoção religiosa, segundo Ferreira, influenciou para que a Freguesia de Nossa Senhora das Necessidades recebesse o nome de Santo Antônio. Clara Manso de Avelar faleceu em 22 de outubro de 1790. “Santo Antônio só é o que é por causa dela, mas aqui não há nada que tenha seu nome. Por isso, a importância dessa homenagem”, justificou Sérgio Ferreira. 


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