Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes

25/07/2011 - Social
Rede Valda Costa pretende dar visibilidade à mulher negra
Rede de articulação será lançada no Clube Novo Horizonte, às 18h30, nesta segunda-feira (25/07), Dia Municipal da Mulher Negra

foto/divulgação:

Arte de Valda Costa valoriza a mulher e o cotidiano da cidade

A maioria das mulheres negras brasileiras é constituída por analfabetas e chefes de família sem cônjuge, situadas abaixo da linha da pobreza, e com risco seis vezes maior de morrer por complicações na gravidez ou parto que as mulheres brancas. Essa situação de vulnerabilidade vivida pela população negra feminina, revelada em um estudo realizado pelo Ministério da Saúde, em 2005, motivou a formação da Rede Valda Costa de Empoderamento da Mulher Negra, que será lançada nesta segunda-feira (25/07), em Florianópolis. O evento acontece às 18h30, no Clube Novo Horizonte, na Avenida Beira-mar Norte.

 

A iniciativa deflagra um processo de articulação com moradoras de comunidades do Maciço do Morro da Cruz, com o objetivo de mobilizar mulheres negras do município e fomentar a inserção desse público em espaços de poder, desenvolvendo ações que garantam visibilidade e geração de oportunidades de renda em Florianópolis. Celebrando com homenagens o Dia Municipal da Mulher Negra, instituído na Capital pela Lei nº 7557/2008, a promoção vai também homenagear 25 personalidades femininas de destaque em diferentes segmentos sociais.

 

O evento contará ainda com mostra de artesanato, moda e arte afro-brasileira, e apresentação da velha guarda da escola de samba Copa Lord, do Morro da Caixa. A atividade é uma realização da Coordenadoria de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial (COPPIR), em parceria com a Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulheres e a Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC), com apoio da Associação Cultural Alquimídia.

        

Valda Costa

 

A rede de articulação da capital catarinense homenageia Vivalda Costa, mulher negra que nasceu no Morro da Coloninha, na região continental, e viveu no Morro do Mocotó, uma das 16 comunidades de baixa renda que integram o Maciço do Morro da Cruz, na Ilha de Santa Catarina. De origem pobre, a jovem artista destacou-se na cena catarinense como Valda Costa, pintando o morro, os casarios e as figuras humanas, e revelando um olhar próprio sobre o cotidiano da cidade entre os anos 1970 e 1980. 

 

Valda chamou a atenção para sua produção, retratando figuras humanas e de forma peculiar mulheres negras, com colos fartos, bocas carnudas e olhos melancólicos. Expôs sua arte pelo Brasil e no exterior, além de conviver com artistas como Max Moura, Vera Sabino, Janga, Loro, Vecchietti, Meyer Filho e Martinho de Haro. Entretanto, o glamour do início da carreira deu lugar ao sofrimento imposto por problemas de saúde. Enfrentando extrema dificuldade financeira – tendo inclusive que trocar quadros por alimentos para sobreviver – Valda morreu pobre, aos 40 anos, em 1993, sem o devido reconhecimento de sua arte.

 

Discriminação e violência

 

A situação vivida por Valda Costa reflete a realidade brasileira, conforme a pesquisa “Perspectiva da Equidade no Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal – Atenção à Saúde das Mulheres Negras". Realizado pelo Ministério da Saúde, em 2005, o levantamento revelou a situação de invisibilidade e vulnerabilidade social desse extrato populacional.

 

Conforme a pesquisa, a grande maioria de mulheres negras vive na pobreza. O estudo identificou ainda que a taxa de analfabetismo entre elas corresponde ao dobro registrado entre mulheres brancas. Por discriminação ou questões sociais, mulheres negras têm menor acesso aos serviços de saúde de boa qualidade, à atenção ginecológica e à assistência obstétrica tanto no pré-natal quanto no pós-parto. Também apresentam maior risco de contrair doenças como diabetes, complicações por hipertensão arterial e no parto. São ainda as principais vítimas de violência doméstica e violação de direitos no país.

 

No mercado de trabalho, segundo a COPPIR, mulheres negras também estão em maior desvantagem salarial. Recebem 2,7 menos que a média de um homem branco e 1,8 vezes menos que a renda de mulheres brancas. Além disso, ganham em média 1,3 menos que a média salarial dos homens negros.

 

A criação da rede Valda Costa e o empoderamento, em especial das mulheres negras, tem como desafio ajudar na construção de políticas públicas que levem a uma democracia verdadeiramente representativa, contemplando todos os segmentos sociais e corrigindo injustiças históricas.

        

        

*Com informações da COPPIR

        


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