Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes

07/09/2011 - Cultura
Livro registra história das Fortalezas da Ilha
Obra publicada pela editora da Universidade Federal de Santa Catarina foi viabilizada com recursos da Prefeitura de Florianópolis e Fundação Franklin Cascaes, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura

foto/divulgação:

Forte Santa Bárbara abriga a sede da Fundação Franklin Cascaes

A história de um dos mais expressivos sistemas defensivos construídos no Brasil no século 18 é reconstituída no livro “As Defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786”. A obra ilustrada e multimídia, lançada nesta terça-feira (6/09), será distribuída gratuitamente a bibliotecas, escolas públicas e centros de memória do Estado, divulgando um dos patrimônios mais preservados da arquitetura militar no país. A publicação foi viabilizada pela Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC), por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, com apoio da Unimed Grande Florianópolis.

 

Baseada nos escritos originais do engenheiro militar José Correia Rangel, de 1786, que estão sob guarda do Arquivo Histórico Militar de Lisboa, em Portugal, a obra é resultado dos trabalhos de pesquisa e documentação dos arquitetos Roberto Tonera e Mário Mendonça de Oliveira. O livro ajuda a conhecer o cotidiano da vida militar nos fortes situados em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, em vilas portuguesas do Brasil, na segunda metade do século 18. Contribui ainda para a compreensão das origens históricas dos dois estados do Sul, incentivando a valorização da memória e do patrimônio cultural do país.

 

Publicado pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com tiragem de mil exemplares, o livro possui 224 páginas coloridas, trazendo textos de conteúdo histórico, mapas, iconografias, plantas antigas e fotografias atualizadas das fortificações, além de um glossário ilustrado com tradução dos termos técnicos do manuscrito reproduzido em forma de fac-símile. A obra inclui um CD–ROM com o conteúdo do material impresso em linguagem multimídia, com recursos de animação tridimensional e links hipertextuais.

 

Disputas e abandono

 

Desempenhando um papel fundamental nas disputas entre Portugal e Espanha pela posse de terras ao sul do continente, a Ilha de Santa Catarina era considerada um ponto estratégico de parada entre o Rio de Janeiro e Buenos Aires. Usada para reabastecimento de água, alimentos e lenha, assim como para reparos das embarcações, a Ilha ganhou um sistema defensivo a partir de 1739.

 

Para garantir a posse e utilização das terras como base de apoio à navegação e às operações militares, o Governo Português criou em 1738 a Capitania Subalterna da Ilha de Santa Catarina e nomeou como primeiro governador o brigadeiro e engenheiro militar José da Silva Paes. Embora tenha recebido ordens para construir uma única fortificação, Silva Paes foi o responsável por implantar o sistema de fortificações da Ilha, assim como também ergueu fortalezas em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Uruguai.

        

Sob orientação do brigadeiro foram construídas três fortalezas para proteger o acesso à Baía Norte: Santa Cruz (1739), na Ilha de Anhatomirim; São José da Ponta Grossa (1740), num pontal na Ilha de Santa Catarina; e Santo Antônio (1740), na Ilha de Ratones Grande. Para defender a Baía Sul foi construída a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição (1742), na Ilha de Araçatuba.

 

Além delas, posteriormente foram erguidas outras estruturas como os Fortes de Santana do Estreito (1761) e São Francisco Xavier da Praia de Fora (1761); Bateria de São Caetano da Ponta Grossa (1765); São Luiz da Praia de Fora (1771); Santa Bárbara da Praia da Vila (antes de 1774); Nossa Senhora da Conceição da Lagoa (1775); e São João do Estreito (1793), somando 11 fortificações principais e outras de menor porte, das quais não restam vestígios.

 

Entretanto, em 1777, a Ilha de Santa Catarina foi tomada pelos espanhois, após um embate com os portugueses – episódio que revelou a ineficiência das fortificações construídas. Alguns meses após a invasão, Espanha e Portugal firmaram o Tratado de Santo Ildefonso - no qual os espanhois se comprometiam a devolver a posse da Ilha de Santa Catarina em troca da Colônia de Sacramento, na Espanha, que havia sido tomada pelos portugueses. Exigiam ainda a não utilização da Ilha como base militar portuguesa em novos conflitos armados.

 

Com o fim das desavenças, aos poucos as fortalezas militares passaram a ter outras funções, servindo como lazaretos e locais de quarentena para controle de epidemias como cólera, tifo, febre amarela e outras doenças contagiosas que assolaram a população catarinense e brasileira durante o século 19. Nos anos 1960, praticamente todas as fortificações estavam em ruínas, devido aos problemas de conservação e à depredação humana.

 

Patrimônio preservado

 

Após um período de abandono e ruínas, as principais fortificações foram restauradas e revitalizadas, num processo liderado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), nas décadas de 1970 a 1991. Em decorrência do trabalho de restauração e revitalização desse patrimônio cultural, as fortificações passaram a receber um número significativo de visitantes de várias regiões do Brasil e também de outros países, tornando-se polos de atração turística.

 

Em 1995, foi criado o projeto Fortalezas Multimídia, vinculado à UFSC, com o objetivo de proporcionar a informatização de conteúdos relacionados às fortificações brasileiras e disponibilizá-los ao público em geral, aos especialistas na área e aos técnicos de órgãos de preservação. A iniciativa vem possibilitando a democratização do acesso ao conhecimento sobre esse patrimônio, contribuindo para as áreas educacional, turística e cultural, ajudando também na preservação de uma parte da história das cidades fortificadas.

  

Sobre os autores

 

Nascido em Florianópolis, Roberto Tonera é arquiteto graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, com especialização em Engenharia Civil pela mesma universidade. Desde 1989 é responsável pelas obras de conservação e restauração das fortalezas da Ilha de Santa Catarina, sendo criador e coordenador do Projeto Fortalezas Multimídia. Atualmente coordena o projeto do banco de dados Mundial sobre Fortificações.

 

Mário Mendonça de Oliveira é natural da cidade de Itiúba, no sertão da Bahia. Formado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, atua como arquiteto restaurador, com formação em Florença (Itália). Realiza consultorias no Brasil e no exterior, sendo criador e coordenador do Núcleo de Tecnologia da Preservação e da Restauração.

        

Mais informações:

 

www.fortalezasmultimidia.com.br


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