Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes

25/11/2011 - Cultura
Florianópolis homenageia sesquicentenário do poeta Cruz e Sousa
Durante o evento, nos jardins do Museu Histórico de Santa Catarina, que leva o nome do poeta, foram lançados selo, carimbo e game alusivos ao sesquicentenário, além de realizadas intervenções poético-musicais com a participação de artistas negros.

foto/divulgação:

Superintendente da Fundação Franklin Cascaes, Rodolfo Joaquim Pinto da Luz, recebeu uma réplica do selo

Considerado um dos maiores poetas simbolistas do mundo, o escritor catarinense João da Cruz e Sousa foi homenageado na quinta-feira (24), com uma programação especial, marcando os 150 anos de seu nascimento. Durante o evento, nos jardins do Museu Histórico de Santa Catarina, que leva o nome do poeta, foram lançados selo, carimbo e game alusivos ao sesquicentenário, além de realizadas intervenções poético-musicais com a participação de artistas negros.

 

Entre as diversas lideranças do movimento negro e autoridades presentes à cerimônia, participaram da mesa o prefeito Dário Berger; superintendente da Fundação Catarinense de Cultura, Joceli de Souza, representando o governador Raimundo Colombo; Vereador Asael Pereira, representando a Câmara de Vereadores; presidente do Instituto Histórico e Geográfico, Augusto César Zeferino; presidente da Academia Catarinense de Letras, Péricles Prade; reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Álvaro Prata; Coordenadora de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial, Ana Paula Cardozo; e o diretor regional dos Correios em Santa Catarina, Márcio Miranda Vieira da Rosa.

 

Também estiveram à mesa o superintendente da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes e secretário municipal de Educação, Rodolfo Joaquim Pinto da Luz; além do escritor Uelinton Farias Alves, que falou sobre a vida e obra de Cruz e Sousa, assunto ao qual vem se dedicando há cerca de duas décadas. “Os grandes homens negros que marcaram a história deste país surgiram no século 19” disse o pesquisador, radicado no Rio de Janeiro. “Cruz e Sousa foi o único escritor negro que criou uma escola literária – a escola simbolista”, observou Alves.

 

PIB Cultural

 

Uelinton Alves elogiou as homenagens a Cruz e Sousa realizadas em Florianópolis, e ressaltou que o nome do poeta deveria ser mais divulgado e aproveitado para alavancar o turismo da cidade. Citou o exemplo do escritor Casimiro de Abreu, nascido no litoral do Rio de Janeiro. Segundo o pesquisador, atualmente a cidade natal do poeta carioca tem a economia movimentada pelo turismo cultural em torno de sua vida e obra, inspirando versos nos muros, venda de camisetas e diversos produtos. Assim como o simbolista catarinense, Casimiro de Abreu morreu muito jovem, vítima da tuberculose. “Santa Catarina tem que se orgulhar em ter uma pessoa como Cruz e Sousa originário desta terra. Isso pode representar um PIB importante para o estado”, complementou.

 

O superintendente da Fundação Franklin Cascaes, Rodolfo Joaquim Pinto da Luz, destacou a relevância das comemorações e a importância de investimentos em ações permanentes como a educação para que, a exemplo do poeta catarinense, mais escritores possam ser revelados. “Quantos talentos como Cruz e Sousa não surgiram por falta de oportunidades e de acesso à educação”, indagou aos presentes. “Estamos aqui trazendo nosso reconhecimento a esse grande homem”, complementou o prefeito Dário Berger em sua fala, reafirmando o orgulho de administrar a cidade onde o poeta nasceu.

 

Após a manifestação das autoridades, a cantora Maria Helena interpretou algumas canções ligadas  à negritude, seguidas de declamação de poesias. O ator JB Costa declamou os poemas “Vida Obscura” e “Acrobata da Dor”, enquanto o ator Leonardo Batz recitou “O Assinalado”, também de autoria de Cruz e Sousa. O evento contou ainda com apresentação da banda da Polícia Militar de Santa Catarina e da cantora Roberta Lira.

 

Selo, carimbo e game

 

O ponto alto das comemorações no Palácio Cruz e Sousa foi o lançamento do selo e carimbo alusivos aos 150 anos de nascimento do Poeta do Simbolismo. Produzido pela Empresa de Correios e Telégrafos, o material será utilizado nas correspondências da Secretaria Municipal de Educação, e para uso didático nas unidades de ensino da Capital. O carimbo com a imagem de Cruz e Sousa ficará 30 dias na agência dos Correios, na Praça 15 de novembro, conforme critérios do Conselho Nacional de Filatelia,  sendo  utilizado em todas as correspondências desta agência de 24 de novembro a 24 de dezembro. Após o período, será enviado ao acervo filatélico nacional, em Brasília.

 

Durante a solenidade foram entregues pela direção regional dos Correios seis réplicas do carimbo à Secretaria Municipal de Educação, que presenteou algumas instituições como a Academia Catarinense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, Câmara Municipal de Florianópolis, Fundação Catarinense de Cultura, e Gabinete do Prefeito/Prefeitura de Florianópolis.

 

O selo traz uma imagem de domínio público, de Joseph Bruggemann, retratando a paisagem urbana de Florianópolis, então Desterro (1868), com a imagem de Cruz e Sousa sobreposta à cena. O projeto foi apreciado pela Associação Catarinense de Filatelia e Diretoria dos Correios em Santa Catarina, além de ter sido aprovado pelo Grupo Articulador – 150 Anos de Nascimento do Poeta Cruz e Sousa. O público que participou do evento recebeu unidades do selo comemorativo.

 

Encerrando a programação, foi lançado o demo do game Cruz e Sousa – O Poeta do Desterro, produzido por jovens de 14 a 17 anos do Projeto Novos Talentos, do Programa SC Games. O jogo foi criado com o objetivo de popularizar a obra do escritor catarinense, principalmente entre os adolescentes, utilizando uma ferramenta moderna e atrativa para a faixa etária. Esse é o terceiro jogo eletrônico produzido no projeto – e o primeiro que aborda um tema catarinense. A ideia é oferecer uma ferramenta didática tanto para os alunos envolvidos na produção, quanto para aqueles que vão brincar com o game.

 

A programação comemorativa do sesquicentenário de Cruz e Sousa foi organizada pelo Grupo de Articulação, formado pela Fundação Franklin Cascaes (FCFFC); Secretaria Municipal de Educação (SME); Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial (Coppir); Secretaria Municipal de Transportes, Mobilidade e Terminais (SMTMT); Instituto Énrea; Fundação Catarinense de Cultura (FCC); SC Games; Câmara Municipal de Vereadores; Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc); Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Academia Catarinense de Letras (ACL); Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC); Associação Catarinense de Imprensa (ACI), e Empresa de Correios e Telégrafos (ECT/SC).

 

O Poeta do Desterro

 

João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, em 24 de novembro de 1861. Negro, filho dos escravos libertos Guilherme da Cruz e Carolina Eva Conceição, foi educado com apoio dos ex-senhores da família – o Marechal Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa Clarinda –, que deram a João da Cruz o sobrenome Sousa da família. Estudou no Ateneu Provincial Catarinense, onde aprendeu francês, latim e grego, dedicando-se também à matemática e às ciências naturais. Aos 20 anos ingressou no jornalismo e trabalhou nos jornais Colombo, O Moleque e a Tribuna Popular, junto com o escritor e amigo Virgílio Várzea, com quem publicou o primeiro livro: Tropos e Fantasias, em 1885.

 

Negro numa sociedade escravocrata, o escritor enfrentou dificuldades financeiras, sofrimentos familiares e a discriminação da sociedade.  Incompreendido por seus versos simbolistas e pela poética que o colocou ao lado da vanguarda francesa, foi rejeitado pela Academia Brasileira de Letras. Engajado nas lutas de seu tempo, o poeta militou contra a escravidão e, por sua origem, foi recusado para ocupar o posto de promotor na província de Laguna.

 

Cruz e Sousa mudou-se para o Rio de Janeiro em 1890, e lá conheceu Gavita Rosa Gonçalves, também negra, com quem se casou. Teve com ela quatro filhos, que morreram cedo vítimas da tuberculose. A doença também vitimou o escritor levando-o à morte em Minas Gerais, aos 36 anos de idade, em 19 de março de 1898. O corpo de Cruz e Sousa foi transportado para o Rio de Janeiro num vagão para transporte de animais. Em 2007, os restos mortais do escritor foram trasladados pelo governo catarinense e depositados no Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa.

 

Entre as obras do escritor destacam-se Missal (1893, prosa poética), Broquéis (1893, poesia), deflagrando o Simbolismo no Brasil e liderando um movimento de renovação literária que se estendeu até 1922. Após sua morte, foram publicados os livros Evocações (1898, prosa), Faróis (1900, poesia) e Últimos Sonetos (1905, poesia), colocando o poeta negro entre os grandes nomes da literatura mundial.


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